Coluna Preto no Branco: Quem é a bruxa da vez?
Por Max Pereira
Neto, diriam alguns. Vargas, diriam outros. Nacho, apontariam outros mais que, incomodados ou não compreendendo a perda de titularidade de “El Cerebro”, questionam as escolhas de Cuca e se perguntam porque o craque argentino perdeu espaço desde a volta do treinador campeão brasileiro em 2021.
E eu responderia que a bruxa da vez pode ser qualquer jogador que vista a camisa alvinegra e que, fortuitamente ou não, se transforme em alvo para aqueles, atleticanos ou não, que, por razões diversas, sempre alimentam e potencializam esses ataques (caças às bruxas), particularmente recorrentes na vida do Atlético.
Iniciei o artigo “CÉU OU TERRA ARRASADA? O GALO, COMO SEMPRE, NO FIO DA NAVALHA”, publicado em 2 de setembro passado no blog Canto do Galo, escreve que “o Atlético mais uma vez vive momentos de tensão, de muito mi mim mi e de muitas cobranças. Coisas do Atlético, diriam todos aqueles que minimamente conhecem a história desse alvinegro maluco e incandescente por natureza. Dizem que todo time do povo é assim: convulsivo, turbulento e paradoxal. Donos de torcidas passionais, bipolares, irracionais e apaixonadas ao extremo, tudo o que se fala deles é notícia, adquire uma dimensão absurda e gera consequências muitas vezes desastrosas e incontroláveis. Não atoa, clubes como o Atlético são os que mais geram audiência em programas esportivos, vendem jornais e deixam os seus críticos em evidência”.
Mas, ainda que por tudo isso o Atlético viva permanentemente sentado em cima de um vulcão que por vezes entra em erupção espalhando as suas chamas e causando danos quase sempre bastante graves e, portanto, muitos naturalizam esse tipo de turbulência muito comum no clube, é preciso que o torcedor atleticano entenda que ele pode contribuir decisivamente para que o Glorioso dê um basta neste estado de coisas ou, pelo menos, o minimize a um nível que não mais produza males significativos dentro e fora do campo.
“Ah! Mas fulano de tal cometeu uma indisciplina e tem que ser punido mesmo. Multa e afastamento temporário é pouco. Tem que mandar embora”, defendem alguns. “E para mim beltrano não é jogador para o Atlético e deve sair mesmo. Se precisar eu mesmo o levo ao aeroporto”, gritam outros. Esquecem-se estes e aqueles que qualquer solução adotada ao arbítrio da emoção, da raiva, da intolerância ou de qualquer outro sentimento que embace a razão fatalmente levará o clube a arcar com prejuízos pesados. E a história do Atlético é recortada de episódios emblemáticos que à larga mostram o quanto o clube já foi penalizado moral, técnica e financeiramente por agir de forma pueril e amadora.
Atos de indisciplina estão presentes em qualquer atividade humana e em qualquer organização. O trato equilibrado, proficiente e diligente destas questões é de fundamental importância para a preservação de um bom ambiente e para a recuperação de um ativo que, por ventura, esteja se perdendo e trilhando um caminho que pode significar um corte decisivo em sua vida profissional. Se são vários os exemplos de jogadores de extremo potencial que se perderam e destruíram as suas carreiras, também são pródigos os casos em que clubes, agentes, familiares e amigos verdadeiros se uniram para proteger e salvar as carreiras de atletas que fizeram historia no futebol mundial.
Por outro lado, a opinião ou o sentimento pessoal de quem quer que seja, inclusive os meus, não devem e nem podem avalizar qualquer dispensa e, também qualquer contratação. Ou seja, o nosso gostar ou não gostar desse ou daquele jogador não deve e nem pode ser requisito ou critério nem para sua contratação e, muito menos, para a sua dispensa. E isso vale também para qualquer treinador, funcionário e dirigente.
Atos de indisciplina, fases ruins, fakes, momentos adversos, o mau trato de toda e qualquer notícia e a exploração midiática e panfletária de qualquer fato ou informação, sejam verdadeiros ou não, tem corroído as entranhas do Atlético, como qualquer vírus ou bactéria oportunistas devastam o organismo humano.
E, da mesma forma, que o nosso corpo ficará vulnerável se não cuidarmos dele, seja não nos vacinando, seja não fazendo a higienização correta, seja ainda não nos alimentando corretamente ou não fazendo exercícios físicos regulares, o clube também sucumbirá se ele não souber se proteger, nem se blindar em relação às ações maléficas dos vários agentes externos que costumeiramente jogam contra ele, se ele não se capacitar eficientemente para o jogo dos bastidores e se ele, além de se profissionalizar em todas as suas áreas fins e meio como parece que tem feito, também não aprimorar a gestão do futebol.
A comunicação é uma via de duas mãos. E, no caso do Atlético, tem sido um terrível calcanhar de Aquiles. Se de um lado o clube deve ser transparente e, ao mesmo tempo, preservar as suas informações estratégicas e os seus segredos de negócio, de outro, é urgente que o Atlético busque resgatar a credibilidade perdida, tornando eficiente e confiável a sua comunicação institucional.
À mulher de César não basta ser honesta. Ela tem que parecer honesta. Do mesmo modo, o Atlético tem que aprender a cuidar da sua imagem e, por isso, o clube deve repensar a sua comunicação institucional, alinhar o discurso, deixar de ser esta babel de informações desencontradas e parar de criar este clima apocalíptico, de insolvência, que só desvaloriza a sua marca e o valor de mercado de seus atletas.
E, nisso tudo, cabe ao torcedor um papel importantíssimo: checar e filtrar uma, duas, dez, cem vezes se possível qualquer notícia ou qualquer informação recebida, não amplificar e nem repercutir qualquer fakenews, qualquer ataque ao clube ou a qualquer de seus profissionais ou dirigentes, não alimentar qualquer caça às bruxas, mas, vigiar e cobrar sempre, claro, com responsabilidade e diligência. As críticas e as cobranças construtivas, ao contrário, devem ser estimuladas e compartilhadas sempre.
Só assim, deixaremos de nos fazer aquela pergunta insossa, chata e perniciosa: quem é a bruxa da vez?
O TEXTO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DO PORTAL FALA GALO.