Coluna Preto no Branco: elenco curto é ficção ou realidade?
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
A composição do elenco do Atlético, sua montagem e estruturação, é o assunto do momento no universo alvinegro. Em meio às discussões que polulam aqui e ali e aos questionamentos que são feitos a Milito em suas coletivas a respeito das carências do grupo atleticano e das soluções que devem ser adotadas, apenas uma verdade absoluta fica escancarada: o imenso desconforto do treinador.
Aqui é forçoso lembrar os recorrentes alertas do técnico Antônio Mohamed em todas as vezes em que foi entrevistado. Em seu clássico portunhol, o Turco sempre fazia questão de ressaltar a importância de um elenco LARGO, expressão que em espanhol significava um elenco prenhe em opções em qualidade e em quantidade, o que possibilitaria a qualquer comandante, jogo a jogo, escalar o melhor time.
E quando se fala em opções em quantidade não se está querendo defender elencos inchados. Equilíbrio é uma variável fundamental e imprescindível à montagem de um elenco minimamente competitivo, que só se obtém com um grupo qualificado tecnicamente e plural em relação em relação às características físico-atléticas e funcionais dos seus atletas e à capacidade de leitura e de assimilação de conceitos táticos de seus jogadores e em um ambiente sadio no qual o trinômio respeito, confiança e o gostar de tudo e de todos, incluindo do comando em todos os níveis, viceje natural e normalmente.
Portanto, quem e quantos contratar ou lançar no time principal não é uma definição que deve ser resultante apenas das vontades passionais e, muitas vezes, irrefletidas deste ou daquele torcedor. Também não pode ser resultante tão somente de uma política de austeridade que se descure totalmente dos resultados esportivos, que não saiba diferenciar investimento de gasto supérfluo e que despreze a relação clube-torcida e suas implicações no chamado negócio futebol.
O objetivo central de um clube de futebol, associação, SAF ou qualquer outro modelo de organização empresarial, deve ser o resultado esportivo. É claro que algumas parcerias e projetos visam tão somente transformar a associação originária em uma espécie de barriga de aluguel, ou seja, em um daqueles clubes que não têm como horizonte a conquista de títulos e, sim, revelar jovens promessas, para os grandes mercados mundiais, particularmente o europeu, a grande meca para muitos e muitos jogadores.
Outros investidores buscam basicamente estabelecer ou potencializar a sua marca no mercado. Para clubes do tamanho, com a história, a tradição e uma massa torcedora como a do Atlético, entretanto, receitas e desempenho financeiro devem ser consequência dos resultados esportivos. Assim espera a sua torcida, base histórica e mítica de seu gigantismo.
As planilhas de Excel, de Power Point e os gráficos são importantes, porém frios e insuficientes para uma gestão de futebol qualificada. A expertise e o conhecimento do meio são essenciais. Cada vez mais não se ganha jogos e nem se conquista títulos jogando apenas dentro de campo.
É preciso saber vencer fora das quatro linhas também. E, para isso, é fundamental e indispensável que o clube conte com as pessoas certas nos lugares certos. Não canso de repetir que o futebol dos dias atuais, transformado em um negócio multibilionário, sistêmico e complexo está a exigir dos clubes estratégias cada vez mais sofisticadas.
De um lado, o jogo dos bastidores exige do clube força político-econômica muitas vezes impossível de exibir. Afinal, é cruel e quase sempre inglória para a grande maioria dos clubes brasileiros a guerra, muitas vezes demarcada por estratégias, ações e fatos desprovidos de ética e de lisura, que vem sendo travada temporada após temporada, com o objetivo de conquistar a hegemonia e o protagonismo do esporte no país e, por tabela, amealhar os maiores prêmios distribuídos em cada competição, as melhores receitas de transmissão televisa, os maiores patrocínios master e os melhores aportes de investimento.
De outro, montar um elenco e provê-lo de condições mínimas para que os atletas que o compõem entreguem aquilo que deles se espera tem se tornado cada vez mais uma tarefa hercúlea e complexa. Assim, definir com quem e com quantos eu vou contar, contratando ou lançando da base no time principal, não é uma missão simples, porquanto é essencial conhecer e considerar as diversas variáveis que permeiam o mundo da bola e os interiores de um clube de futebol.
Foram-se os tempos plásticos e românticos do futebol, onde a técnica era preponderante, o lúdico era respirado e transpirado e o esporte bretão era catártico. Tático, físico, mental e comercial, o futebol dos tempos atuais exige dos atletas e dos clubes um nível de preparação multifacetado e cada vez mais intenso.
Do ponto de vista físico exige-se do jogador um condicionamento e um rendimento típico dos atletas de alta performance. Do ponto de vista tático, uma disponibilidade multifuncional até pouco tempo atrás fora do vocabulário e do repertório de qualquer aficcionado pelo esporte, inclusive de qualquer treinador de ponta.
Do ponto de vista técnico um mínimo de qualidade para não maltratar a bola e prejudicar o trabalho coletivo. E, do ponto de vista mental, uma força, uma energia e uma concentração cada vez mais extenuantes e estressantes. E não é só no futebol. Duvida? Pergunte à Simone Biles, a maior ginasta da atualidade, que abdicou da última olimpíada para para tratar de sua (dela) saúde mental.
Neste cenário complexo e pesado como utilizar a base e como aferir a necessidade de reforços? Essas questões só serão satisfatoriamente respondidas a partir de um diagnóstico que considere e sopese o grupo atual, as ideias de jogo de Milito e suas necessidades e dê as diretrizes para que o clube formate um projeto consistente de formação e de transição. Enfim, o que se espera do Atlético é que o clube se atente para todas estas variáveis, se estruture e dê ao treinador todas as condições para que ele trabalhe e escale, jogo a jogo, o melhor time possível.
Não sem razão, portanto, um número crescente de torcedores tem cobrado do comando da SAF atleticana investimentos no futebol e, como bem defendeu o companheiro Betinho Marques aqui do Fala Galo, para quem as derrotas do Galo nos fazem enxergar melhor, “uma pitada de ousadia matemática não linear, mantendo o juízo, mas querendo ajudar o Milito, pode valer uma história inapagável. Uma boa engenharia financeira, parcelando no cartão, vai que cola!”. Afinal, um elenco curto é uma dura realidade e o prenúncio de um futuro indesejável.