Coluna Preto no Branco: Atlético, uma casa sem comando e sem atitude
Por Max Pereira
Claro que eu não esperava nenhum milagre de Cuca em sua reestreia. Mas, diante do Internacional, esperava mais intensidade, brio e inspiração dos jogadores que foram a campo.
Está ficando cada vez mais claro que este segundo semestre para o Atlético é de reconstrução com quem sobrar no elenco depois que a janela fechar. Brigar por uma posição no G6 e, por tabela, por uma vaga na próxima Libertadores é o que talvez restará ao Galo. E se, ao final da temporada, o Atlético tiver conquistado no máximo uma vaga para a Sul-americana 2023 não será surpresa nenhuma.
A situação do Turco ficou insustentável, é verdade. Mas, ele nunca foi o único e nem o maior responsável por esse desmanche moral do time atleticano. O comando central que não é e nunca foi do ramo tem muita culpa nesse cartório. Se os problemas alvinegros estavam além da capacidade de resolução de Mohamed, também não se pode esperar e nem exigir que Cuca dê conta deles sozinho. Assim, quando Alex Stival, em sua entrevista coletiva após a derrota em Porto Alegre, disse que sabia o que ele, Cuca, tinha que fazer ele não quis dizer que faria o que o clube em todas as suas esferas de decisão e poder deveria fazer e, muito menos, que o Atlético sabe o que deveria fazer.
Não canso de repetir que tudo o que acontece dentro de campo é consequência direta do que ocorre fora das quatro linhas. É pelo empregado que se conhece o patrão, dizem os antigos. Se você entra em uma casa e só vê lixo, as coisas fora do lugar, muita sujeira e muito mau cheiro, você não vai criticar os empregados e sim os donos da casa. Assim como qualquer empregado é a imagem de seu patrão, o jogador em campo é reflexo do seus comandantes fora dele.
Uma pesquisa informal conduzida no Twitter mostrou que, entre os atleticanos que dela participaram, mais que reconhecer que todos no clube, Turco, jogadores, diretor de futebol e o alto comando têm cada qual a sua parcela de culpa, uma maioria significativa, cerca de 60%, indicou que, para ela, a responsabilidade maior é de quem tem o poder e as chaves do cofre, ou seja, da diretoria executiva e dos 4R’s.
Tão logo se consumou a dura derrota para o Colorado gaúcho vários torcedores alvinegros foram às redes sociais para protestar e desabafar. “Tem algo de esquisito lá dentro”, disse um atleticano que não conseguia esconder a sua preocupação e “há algo de muito podre no reino atleticano e isso não tem como negar”, bradou outro galista indignado.
Por tudo isso não é exagero afirmar que já é caso de intervenção no futebol atleticano. Já passou da hora do Atlético lavar a roupa suja internamente e, como a direção central indica claramente que perdeu o comando e o leme do barco atleticano, é preciso que Cuca, os jogadores e quem mais possa interagir com o grupo ajam com proficiência, sacudam a poeira e recoloquem o time nos trilhos.
Nessa disputa em particular com o Palmeiras por uma vaga nas quartas de final dessa Libertadores, para muitos só um milagre salvará o Atlético. E não dizem isso porque acham que o time palmeirense é melhor ou porque entendem que o elenco da equipe paulista seja superior. Não é nem uma coisa e nem outra. Não se trata de ser e, sim, de estar. Futebol é momento e a verdade é que hoje o Porco ESTÁ muito melhor, muitos furos acima do Galo. E, sendo realista e racional, uma eliminação não seria nenhum absurdo.
Mas, o Atlético é feito de luta, de raça, de entrega, de fé, de superação e em sua história os milagres acontecem. Aliás, não é milagre, é Atlético Mineiro. E a Massa, claro e certamente, fará a sua parte cantando, torcendo, vibrando, incentivando e jogando junto. É o que resta a ela. “Sem choro! Bora pra guerra!”, como alguém convocou em seu Twitter. “Quarta é guerra! Vale o ano de 2022”.
Só quem já venceu o vento tem condições de recolocar este time de cabeça em pé e transformar o sonho em realidade.
O futebol, porém, requer planejamento a curto, médio e longo prazos. E nenhum clube, mesmo um chamado Atlético Mineiro, não sobrevive apenas de insights e de momentos. O Atlético até pode passar pelo Palmeiras, mas é preciso sustentar o trabalho com trabalho, cuidados, planejamento, estratégia e estrutura.
E, no caso desse Galo esquizofrênico, fazer um diagnóstico profundo dos problemas que estão minando o futebol do time e atacá-los na raiz, doa a quem doer, tornou-se algo imperioso e imprescindível para, mais do que salvar esta temporada, caminhar com segurança e efetividade rumo àquele futuro sonhado pela Massa e prometido pelos próceres do clube.
Uma coisa é certa: o projeto da Arena MRV está sendo torpedeado. E, da mesma forma que deverá mostrar uma capacidade de superação, de vencer e de ser campeão que ainda não mostrou nesse ano de 2022 se quiser passar pelo Palmeiras, o Atlético terá que lutar muito para ficar entre os seis primeiros no Brasileirão. Se fracassar nessas duas intentonas, o estádio novo não verá Libertadores no ano de sua inauguração.
Há um fato inconteste que pode estar no centro do debacle atleticano: a mudança de discurso e de política do comando central colocando como prioridade absoluta e principal a alienação de ativos, bens imóveis e jogadores, para o cumprimento de uma meta financeira de resultados com vendas, tida e havida como imprescindível para a viabilização e o futuro do clube.
Essa mudança de rota “coincide” com a queda de rendimento e de inspiração do time atleticano, independentemente de quem tenha sido escalado. Coincidência mesmo? Ou uma das mais importantes leis da física, a da Causa e Efeito, estaria punindo o Atlético?
Ora, se o comando sinaliza pública e acintosamente que os resultados financeiros são as prioridades das prioridades de sua gestão nesta temporada e, por isso, suas ações, seja debilitando temerariamente o elenco, seja não se posicionando clara e firmemente em relação a algumas decisões tomadas, indicam que os resultados esportivos estão em um segundo e talvez em último plano, qual é a resposta que se pode esperar de seus funcionários e, em particular, dos seus jogadores?
“Todo mundo que trocou de técnico antes de nós está na nossa frente: CAP, Inter, Flamengo e Fluminense. Parabéns!”, ironiza um atleticano claramente incomodado com a forma como se deu o desenlace de Mohamed com o Atlético. Para mim, a direção atleticana não errou ao não demitir o Turco logo após a derrota para o Tolima no Mineirão ou depois daquela vergonhosa goleada para o Fluminense no Maracanã como alegado aqui e ali. O erro maior, ao meu ver, foi o clube não se posicionar firmemente interna e externamente sobre a manutenção do treinador, i. e., não assumir claramente esta decisão e, tampouco, se responsabilizar pelas suas consequências.
Uma série de “notícias” pulularam na mídia convencional e nas redes sociais indicando possíveis “rachas” no colegiado atleticano tanto em relação à demissão do Turco quanto ao nome de seu substituto. Paralelamente a uma fuga de responsabilidade absurda e inconsequente e em meio a posicionamentos frágeis que fizeram do clube alvo de zombaria e de chistes desrespeitosos, alimentou-se covardemente um processo de fritura do diretor de futebol Rodrigo Caetano, apontado como o grande e único culpado pelas decisões infelizes que vêm sacudindo o clube.
Jogadores, treinador, funcionários, dirigentes, cada qual tem a sua parcela de responsabilidade tanto nos bons quanto nos maus momentos. E, da mesma forma que devem ser elogiados e aplaudidos pelos sucessos, todos devem também ser cobrados na proporção exata de suas falhas. Uma casa sem comando e sem atitude diante dos desafios e das intempéries trazidas pela vida se desmorona inevitavelmente. Assim tem sido o Atlético nesta temporada.
**O TEXTO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DO FALO GALO.