Preto no Branco: é hora de amarrar as chuteiras com as veias!

Por: Max Pereira
O jogo absurdamente ruim praticado pelo Atlético diante do fraco e limitado Carabobo na Venezuela acendeu o alerta vermelho. O que mais chamou a atenção e irritou o torcedor atleticano foi, mais uma vez, a postura equivocada, rançosa e apática do time atleticano, algo absolutamente inadequado em se tratando de jogos da Copa Libertadores. Sem inspiração e macambúzios, os jogadores atleticanos em muitos momentos se assemelhavam a zumbis, se limitando a repetir determinados movimentos, em especial, aqueles irritantes toques laterais e para trás, nada produtivos.
Lentos e burocráticos, os alvinegros encontraram imensas dificuldades de criação e de articulação. Quem já viu outros times treinados por Coudet surpreendeu-se negativamente. O comentarista Víctor Birner da ESPN lembrou após o jogo que no Atlético de hoje não se consegue ver aquele time vibrante, que marca com intensidade a saída de bola do adversário, sai em velocidade, troca passes rapidamente, faz triangulações e ultrapassagens pelas beiradas de campo e ataca com volúpia, características dos times de Coudet.
Já o excelente Paulo Calçade foi cirúrgico ao dizer que falta ao atual time do Atlético o jogo coletivo, organizado. Para ele, o que se vê em campo é um amontoado de jogadores que muitas vezes não sabem o que fazer com a bola. Na base do cada por si e Deus por todos, o Atlético ainda peca pela falta de energia, de alegria, de prazer e por não fazer a sua parte. Como, então, esperar que Ele ajude?
Por sua vez, o comentarista Júlio Gomes, da BandSports colocou em dúvida a temporada do Atlético depois do empate com o Carabobo, por 0 x 0 em Caracas pela segunda fase da Copa Libertadores. O jornalista disse que o Galo fez um jogo abaixo da média e alertou para outros brasileiros que foram eliminados antes da fase de grupos do torneio continental.
Com esse futebol mequetrefe não tem como não fazer trocadilho e Gomes fez o seu: “a gente pode até se esforçar, querer levar a sério, mas o Galo nos deixou com cara de bobos, que jogo medíocre, medíocre não, abaixo da média”.
E, como muitos analistas têm observado, é fato que existem vários atenuantes, como viagem muito longa e de logística pesada, Hulk não jogou, gramado ruim.
Mas, o Atlético teria que chegar num jogo desse e ganhar, para não ficar com cara de bobo, como muitos times brasileiros têm ficado, disseram aqui e ali vários formadores de opinião.
Mesmo com todas as adversidades, o Atlético tinha que ter ido lá e amassado, i.e., com outra postura. Mas, não foi o que aconteceu. Fez um primeiro tempo muito abaixo e o gol que o Everson evitou foi o grande lance do jogo, defesa incrível.
No segundo tempo, o Galo melhorou, mas não chegou a criar nenhuma chance clara de gol ou que, pelo menos, se assemelhasse àquela criada pelo time venezuelano e salva pelo goleiro atleticano. É bem verdade que estádio vazio dá a sensação de que o jogo não vale nada, mas os jogadores atleticanos não podiam entrar em campo e jogar como fosse uma partida qualquer. Pois, é isso que eles passaram para muitos que viram o jogo e, não sem razão, a decepção da massa atleticana é enorme e angustiante.
Não custa lembrar e eu não canso de escrever e de repetir que tudo o que acontece dentro de campo é consequência direta, reflexo direto do que conhece fora. Muitas perguntas clamam por respostas imediatas e providências urgentes do comando atleticano. O elenco estaria tendo dificuldades além do normal para assimilar os conceitos táticos do treinador? E, se positivo, quais seriam essas dificuldades e o que estaria sendo feito para saná-las? E, caso contrário, o que estaria dificultando ou impedindo que o grupo mostre um futebol mais desenvolto, dinâmico e coletivo?
Até que ponto o fato de que estamos em início de temporada, o time está em formação, chegaram novos jogadores, cada qual com um tempo próprio de adaptação ao clube, à cidade, ao clima, ritmo jogo e condições físico-atléticas individuais e um técnico novo inicia seu trabalho, pode justificar a pífia atuação do time atleticano na Venezuela?
Por que Edenílson parece triste, sem energia e em nada lembra aquele jogador dinâmico, elétrico, vibrante e participativo, eleito um dos grandes destaques da temporada passada?
Ou existiria algo que pudesse estar afetando negativamente o ambiente intramuros da Cidade do Galo? Aqui e ali, segmentos das mídias tradicional e alternativa, perfis diversos das redes sociais e vários “influencers” atleticanos têm noticiado que os salários estão atrasados, que o clube ainda deve direitos de imagem, premiações e décimo terceiro a vários jogadores e o que é pior, tem prometido pagar em determinadas datas e não tem cumprido as suas promessas. Isso estaria afetando o rendimento do time em campo?
E mesmo que os atrasos do Atlético no cumprimento de suas obrigações e, particularmente, este promete e não cumpre, não estejam ainda produzindo danos e nem se refletindo negativamente em campo como muitos atleticanos desconfiam, a continuar assim é tão certo quanto dois mais dois é igual a quatro que o ambiente interno irá se deteriorar a níveis incontroláveis e os resultados dentro das quatro linhas serão desastrosos. A bola não perdoa, a bola pune.
E o Atlético já tem a sua história recortada de fatos e de momentos trágicos resultantes de erros, de equívocos e desacertos vários na condução do clube e no trato de sua dívida, historicamente inflada de forma temerária, irresponsável e inconsequente. Não à toa, Atlético já visitou, inclusive, a Série B.
Causa e efeito, uma lei da física e um princípio basilar da vida. Em uma entrevista após o jogo Edenílson foi sincero e revelador: “No 1º tempo não encaixamos nosso estilo, seja pelo gramado, seja por desatenção nossa de não entrar preparado para um jogo desse porte. Um pouco do estádio vazio dá sensação, às vezes, de um jogo que não vale. É algo que serve de aprendizado”.
Ora, se o time entrou em campo desatento e despreparado para um jogo de Libertadores, como admite o jogador, é certo que houve uma falha grave na preparação para esta partida. E, se lembrarmos, que diante do rival azul no campeonato mineiro, também, ficou nítido o despreparo do time atleticano para o clássico e que o desempenho do Atlético neste início de temporada tem provocado em seu torcedor mais dúvidas do que certezas, mais preocupações do que alegrias e mais temores do que confiança no futuro, é sinal de que algo não vai bem e precisa ser identificado, atacado e resolvido antes que seja tarde demais.
É hora de amarrar as chuteiras com as veias. Mas, a responsabilidade não é só dos jogadores. Todos dentro do clube, independentemente de sua função e grau de comando, poder e decisão, têm a sua parcela de responsabilidade e uma missão a cumprir: fazer a sua parte.
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*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.