Preto no branco: Jogo é jogo e treino é treino!

Por: Max Pereira
Depois de mais ou menos 60 dias o Atlético voltou campo e matou a saudade de seus milhões de aficcionados apaixonados. Em tarde/noite de muitas estreias, no banco e dentro de campo, o atleticano tinha razões de sobra para imaginar 1001 possibilidades entre a escalação inicial e o que poderia acontecer dentro das quatro linhas depois que a bola começasse a rolar.
Bolões relativos ao placar e sobre quem faria o primeiro gol atleticano na temporada pulularam aqui e ali. Aliás, locais para fazer apostas é o que não faltam hoje em dia.
Se o time que foi a campo trouxe surpresas em sua formação para muitos atleticanos, eu entre esses, a forma intensa e a dinâmica com a qual os jogadores se portaram, ainda que a equipe não tenha sido brilhante e mostrado relativo desentrosamento, encantou e deixou otimista uma legião de torcedores.
Para mim, a escalação de Calebe desde o início foi a grande novidade na formação do onze que começou o jogo contra a chata e bem treinada Caldense.
E até o primeiro gol atleticano Calebe mostrou que tinha merecido aquela oportunidade, constituindo-se em peça fundamental na saída e na construção do jogo do Atlético, ao se posicionar à frente da linha de três formada por Bruno Fuchs, Jemerson e Allan e, além de quase sempre fazer o jogo vertical, visando romper as linhas do adversário, buscar se infiltrar na área da Caldense utilizando os espaços abertos pelos meias e pelos dois atacantes que jogavam centralizados, mas que se mostraram experts na arte de flutuar e se alternar na posição de centroavante.
Pedrinho, excelente, e Paulinho, deixaram ótima impressão. Dodô, sóbrio e personalista, cumpriu o seu papel. E Allan foi gigante, lembrando seus melhores momentos com a camisa alvinegra.
Jogo é jogo e treino é treino, já dizia Neném Prancha, o saudoso e velho filósofo do futebol. A amostra deixada diante da Veterana de Poços de Caldas foi muito interessante e, por certo, ofereceu a Coudet um repertório bastante variado e muito rico para as suas observações.
Enquanto do meio para frente o time mostrou um futebol intenso, dinâmico, de muita movimentação, muitas triangulações, muita aproximação e também de muitos pecados no que se refere às finalizações, o sistema defensivo mostrou fragilidades preocupantes, principalmente nas bolas alçadas e/ou lançadas na área atleticana e na recomposição, um certo descompasso físico entre os zagueiros titulares, com Fuchs mostrando insuspeita mobilidade, velocidade e personalidade, com Jemerson ainda pesado e com Nathan Silva, que entrou no segundo tempo, completamente disperso.
Se Paulo Henrique entrou em campo carregando todas as desconfianças do mundo atleticano e, ainda que não tenha sido exuberante, conseguiu sobreviver, Edenílson curiosamente foi melhor depois que foi deslocado para a lateral direita onde teve mais espaço para mostrar o seu jogo. Igor Gomes entrou no lugar de Calebe e Patrick fez a sua estreia. O primeiro mostrou importante visão de jogo e significativa capacidade de articulação. Já o Pantera deixou claro que ele, a exemplo de Edenílson, irá agregar muita competitividade e muita força ao time atleticano combinada com inteligência e muitos recursos técnicos. Ou seja, com o que há de melhor na escola gaúcha de onde ambos são oriundos.
Muitos se perguntam como Coudet utilizará e encaixará os jogadores que ainda não estão à sua disposição como Zaracho, Kardec e Pavón. E Vargas? O chileno tem ou não tem espaço no esquema do treinador argentino? E quanto a Sasha e ao Fumacinha Ademir? O que esperar deles? Rubens continuará sendo o eterno coringa ou, finalmente, terá uma chance consistente em sua verdadeira posição?
Fala-se muito na chegada de mais um ou dois reforços ainda nesta janela. Mais um lateral direito e mais um zagueiro são tidos como reforços imprescindíveis para um clube que terá nesta temporada e, mais uma vez em sua história, que enfrentar um calendário perverso e desgastante. E há que se considerar ainda que Mariano e Rever, em idade avançada, já se aproximam do fim de suas carreiras e não podem e nem devem ser utilizados seguidamente em todos os jogos. Por outro lado, certamente eles contribuirão em muito com a sua experiência e liderança, fundamentais à preservação de um bom vestiário.
Vários são os jogadores que chegaram e, claro com períodos e dificuldades próprias de adaptação ao clube, à cidade e, no caso de alguns, ao próprio futebol brasileiro. Em uma entrevista coletiva na Argentina já como jogador do River Plate, Nacho Fernández fez uma declaração que soa como um alerta muito importante para os homens que conduzem o futebol atleticano. “El Cérebro” revelou que, graças ao pesado calendário do futebol brasileiro e às viagens quase sempre longas, desgastantes e de logística complicada, ele sentiu bastante e, muitas vezes, não pôde entregar o seu melhor futebol.
E, neste início de temporada os treinos e todo o trabalho adjacente serão fundamentais tanto para condicionar física, mental e emocionalmente o elenco para suportar toda a carga que advirá, quanto para que Coudet conheça e avalie todo o grupo que ele tem à sua disposição e possa fazer o time evoluir, seja na assimilação de sua forma de jogar e de seus conceitos e métodos, seja para ele próprio fazer os ajustes táticos necessários a maximizar o rendimento e o desempenho de todos os atletas.
O Turco Antônio Mohamed sempre defendia a importância de se dar ao treinador o que ele, em bom espanhol, chamava de elenco “largo”, i.e., um grupo prenhe de qualidade e quantidade para que o comandante possa rodar o time, produzir e efetuar as variações táticas que se fizerem necessárias de um jogo para outro ou até mesmo durante uma mesma partida. Houve jogos sob o comando de “El Turco” e, foram muito poucos, que se viu durante 90 minutos vários Atléticos. Coudet mostrou em apenas um único jogo que com ele também é possível esperar algo parecido, ou seja, Atléticos diferentes em uma mesma partida.
O deslocamento de Edenílson para a ala direita, a entrada de Patrick pela meia esquerda e a consequente transposição do ótimo Pedrinho para o lado direito, tudo isso associado às características do também muito bom Igor Gomes, deu ao Atlético, por exemplo, uma nova “cara “no segundo tempo.
Um novo jogo-treino diante do Villa Nova foi realizado nesta última terça-feira. Mais um laboratório para Coudet que sabe que jogo é jogo e treino é treino ter podido experimentar, novas fórmulas e ter misturado novos ingredientes, i.e., ter observado e dado minutagem a atletas que, diante da Caldense, ou atuaram pouco ou nem mesmo entraram em campo.
Quando Arana, Rabello e os demais atletas contundidos estiverem recuperados e à disposição do treinador o elenco ficará bem encorpado e os prognósticos serão bastante positivos.
Mas, agora é hora de dar tempo ao tempo e é tempo de muito trabalho. Afinal, jogo é jogo e treino é treino. Se não houver saídas extemporâneas e inoportunas, se esses dois reforços esperados chegarem de fato e se Coudet continuar abrindo espaços e criando condições para que os talentos emergentes e de potencial induvidoso que a base atleticana possui sejam observados e possam fazer uma transição tranquila e consistente, não há porque não acreditar que 2023 seja, não só aquele ano que todo atleticano sonha e deseja, mas o início de uma era de muitas conquistas e glórias para o Galo mais querido e mais famoso do mundo. Ah! Não falei ainda de Hulk. Mas, é preciso?
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