Perguntar não ofende…
Por Max Pereira
Fim de ano, fim de temporada, fim de feira. Tempo de mudanças para alguns, de reafirmação para outros, de esperanças para todos. Tempos de muito disse-me-disse, de especulações mil entremeadas por notícias verdadeiras e, para o Atlético como sempre, tempos de turbulência, de indefinições, de idas e vindas de jogadores, de expectativas, de muitos maus negócios e, por tudo isso, de muitas críticas, cobranças, insatisfações e reclamações de seus torcedores.
O ano de 2022 tornou-se para o país e particularmente para o Atlético muito tenso, complicado, prenhe de problemas e delicadamente definidor do futuro. O Brasil sacudido pelas eleições e pelas manifestações que vem ocorrendo país afora tem diante de si imensos desafios. E não é diferente para o Atlético.
O Glorioso chega ao final da temporada com uma dívida exorbitante, com uma arena prestes a ser inaugurada, mas que tem também se mostra refém de um endividamento mais que preocupante e, para muitos, mal explicado, com a perspectiva de passar pela mais radical e importante transformação de sua história com a constituição de sua SAF e, no futebol, buscando fazer uma reformulação em seu elenco que, considerando os negócios já detonados e admitidos pelo clube, estão gerando no seio de sua massa torcedora mais preocupação e temor do que satisfação e tranquilidade.
Práticas rançosas e antigas de frituras de jogadores que o clube quer descartar se repetem, contando com os segmentos da torcida que sempre respondem a este tipo de apelo de forma acrítica e irreflexiva. Nacho Fernández, por exemplo, é vítima do mesmo tipo de ataque que Savarino e dezenas de outros jogadores ao longo dos tempos foram alvo. “Ah! Mas o jogador quer sair. Então, tchau! Se quiser pago o Uber ou levo até o aeroporto”.
Qualquer profissional, em qualquer atividade ou profissão, tem o direito de querer redirecionar a sua carreira ou a sua vida. Querer sair não é crime e nem é desrespeito à instituição e sequer é demonstração de não gostar do clube. A história do Atlético é repleta de casos de jogadores que, em determinado momento, desejaram sair por razões diversas e, em outros momentos, quiseram e pediram para voltar. Faz parte. Outros que também deixaram o clube por razões diversas e respeitáveis adquiriram camarotes da Arena MRV, numa demonstração inequívoca e irrefutável de carinho e apreço ao clube.
Pobre é o clube cujo dirigente, por mais torcedor e apaixonado que seja, ao tomar as suas decisões, se deixar levar pelas opiniões extremadas, irracionais e passionais próprias de um torcedor que sempre fala, age e propõe ideias e ações sempre ouvindo apenas o seu coração e nunca a razão. Irresponsável e inconsequente seria este dirigente.
Se eu quero deixar o meu emprego, mudar de atividade profissional, de casa, de cidade, de estado, de país, de profissão, de estado civil, enfim de vida, obviamente existe uma razão para isso. E, no caso do atleta profissional, as razões podem estar no clube, no ambiente ou na falta dele, nas dificuldades de adaptação ao clube, à cidade, ao país, ao esquema de jogo, ao trabalho desenvolvido pela comissão técnica e, em particular, pelo treinador.
E mais: as cobranças irracionais e violentas da torcida, o disse me disse da imprensa, a crônica ineficiência do clube em proteger e em blindar os seus ativos, o odioso e pernicioso “bullying” constantemente praticado com as famílias dos atletas e, em razão de tudo isso, as quedas de rendimento e de produção dos jogadores o que acaba implicando em uma recorrente redução do valor de mercado do profissional, estão normalmente na raiz do querer sair deste ou daquele jogador.
Perguntar não ofende, mas quantos atletas jamais disseram ou não deram a entender que queriam sair e foram “acusados” de terem manifestado tal desejo e, por isso, foram massacrados pela Massa?
Perguntar não ofende, mas ainda que o jogador A ou B tenha realmente manifestado, seja por que razão for, o desejo de sair, tal fato justifica o clube dele se desfazer de qualquer maneira, quase sempre, a preço de banana?
Perguntar não ofende, mas já não passou da hora do clube que se projeta se tornar uma das maiores potências do futebol mundial parar de supervalorizar os ativos de outros clubes e desvalorizar os seus? Um fenômeno que trava não só o Atlético como o próprio país é o complexo de vira-latas e a consequente supervalorização de tudo o que vem de fora e desvalorização de tudo que é seu. Nesse sentido, a grama do vizinho sempre é mais verde, a galinha mais gorda e mulher mais gostosa.
Perguntar não ofende, mas por que insistir em colocar em xeque a palavra do clube, cujas notas oficiais tem sido motivo de chacota aqui e ali, permitindo que as suas informações e posicionamentos se desmintam recorrentemente como vem acontecendo?
Perguntar não ofende, mas se o processo da SAF é realmente transparente por que os conselheiros que se disseram satisfeitos e informados não sabem responder e esclarecer questões básicas sobre ela como averiguou e informou em seu Twitter o companheiro aqui do Fala Galo Silas Gouveia, para quem prevalece o desconhecimento?
Perguntar não ofende, mas o clube já se posicionou ou esclareceu as questões postas em seu Twitter pelo também companheiro aqui do Fala Galo Angel Baldo em relação às dívidas do Atlético relativas às contratações de Zaracho, Nacho e Arana, além das comissões devidas a agentes relativas às negociações de Léo Sena, Vargas e Arana? Baldo nos lembra ainda que na época destas transações o clube anunciou que fizeram empréstimos para bancá-las e, por isso pergunta, se o Atlético não pagou, gerando inclusive o Transfer Ban em relação a dívida para com o River Plate, como e onde foi utilizado este dinheiro, já que os valores compõem a dívida assumida pelo clube?
Perguntar não ofende porque é direito não só dos conselheiros, mas de qualquer atleticano, em particular do seu sócio torcedor, aquele que injeta dinheiro do clube, ser bem informado e participar efetivamente da vida do clube. Aqui vale lembrar o bom exemplo dado pelo Bahia que permitiu à sua torcida, representada pelos seus sócios, participarem ativamente das discussões e decisões que formataram a sua SAF.
Perguntar não ofende pois é direito do FalaGalo e de sua equipe que se imbuíram da missão de melhor informar ao seu publico seguidor, espectador e leitor, provendo-os de informação de qualidade e verdadeira.
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