O que está acontecendo com o Clube Atlético Mineiro?
Por Max Pereira
Esta é a pergunta que mais tem sido feita tanto nas redes sociais atleticanas quanto por diversos analistas Brasil afora. E muitas são as teorias, algumas dignas dos maiores autores, roteiristas e diretores de filmes de suspense de todos os tempos. Teorias de conspiração não faltam. Caças às bruxas eleitas pelo ódio e pela intolerância também são abundantes e indesejavelmente frequentes.
Aquele time resiliente, com uma absurda capacidade de superação, com um impressionante nível de contundência e que, por isso, ganhou quase tudo em 2021 deu lugar a uma equipe sem inspiração, sem confiança, sem alegria, sem energia, sem brilho e com a autoestima dos jogadores bem abaixo das travas de suas chuteiras. À exceção do goleiro Everson que salvou o Atlético em alguns jogos, todos os demais jogadores atleticanos estão, nesta temporada, jogando e rendendo muito abaixo do que jogaram e renderam em 2021 e do que podem jogar e render. Ninguém desaprende a jogar futebol.
E, se o fenômeno é coletivo, claro está que as causas vão além de uma simples má fase deste ou daquele jogador e de uma deficiência de caráter daquele outro. Tão óbvio quanto a obviedade existem problemas intramuros que precisam ser identificados e atacados na raiz.
Neste e em outros espaços tenho procurado instigar a torcida do Atlético a exigir do comando que este produza um diagnóstico profundo das causas deste futebol melancólico que tem rendido ao time e ao clube críticas e cobranças que mais o conturba e pioram as coisas do que ajudam e contribuem o Atlético a resolver com eficiência o que de fato tem que ser resolvido.
Quando grande parte da torcida, da mídia convencional e dos “influencers” digitais alvinegros clamavam pela saída de “El Turco”, eu insiste na tese de que a simples troca de treinador sem que os problemas internos fossem resolvidos, apenas adiaria do desastre, mascararia os problemas e não faria o time repetir a campanha de 2021. Cuca voltou e, mesmo conhecendo quase todo o grupo, não conseguiu fazer o Atlético encantar a sua torcida e nem fazer a alegria voltar ao time atleticano.
Muitos torcedores têm me pedido para ser mais claro e direto quanto ao que estaria acontecendo nos interiores do clube. Oficialmente o clube nada revela, nada confirma e também não nega alguns rumores que correm à boca pequena. Mas, é nítido e claro que o ambiente está minado. Muitos acreditam, e eu entre estes, que a campanha mágica de 2021 encobriu problemas que aconteceram e deu a falsa sensação de que nos interiores atleticanos eram tudo flores. Não administrados como deveriam ter sido, é mais do que natural que estes problemas adquirem proporções indesejáveis e de difícil trato e controle.
Cuca é sanguíneo e visceral e, por isso, era natural que surgissem arestas entre ele e este ou aquele jogador. Faz parte da vida de qualquer clube. Cabia ao comando administrar os eventuais, normais e possíveis conflitos entre jogadores, entre jogadores e treinadores e entre todos estes e quaisquer outros funcionários e dirigentes do clube.
Em qualquer organização o conflito está sempre presente, em maior ou menor escala, desafiando a quem comanda a geri-lo e a eliminá-lo. Ou, pelo menos, a minimizá-lo de forma a não comprometer os resultados. Soluções açodadas e construídas ao sabor da emoção, da paixão ou ainda da raiva e da intolerância não ajudam em nada. Ao contrário, apenas tornam pior o que já está bastante ruim.
O clube que se deixar orientar pelas famosas e raivosas listas de dispensa que torcedores e formadores de opinião divulgam e repercutem por aí, está fadado a tomar prejuízos morais, técnicos e financeiros irrecuperáveis. Não ficaria ninguém, nem para apagar a luz e fechar as portas da Cidade do Galo. E a tática de jogar para a torcida permitindo “vazar” aqui e ali nomes de jogadores indesejáveis e que devem, de uma forma ou outra, sair do clube, a titulo de uma reformulação não planejada, também é fonte de transtornos internos.
Mais uma vez lembro que a mudança de discurso de 2021 para 2022, a espiral crescente do endividamento do clube, a criticada por muitos venda dos 49,9% restantes do Shopping, a incerteza quanto aos resultados da utilização do dinheiro dessa venda na redução das chamadas dividas onerosas do Atlético, a explosão de dividas da Arena que a fazem nascer com as receitas comprometidas nos próximos 4 ou 5 anos, os reflexos perversos das eleições de 2022 na vida intestina do Glorioso e o disse me disse inconclusivo e preocupante sobre a constituição da SAF atleticana, tida e havida como a salvação da lavoura alvinegra, são os principais fatores que agravaram os problemas atleticanos e contribuíram para gerar descrédito e desencanto em um número cada vez maior de atleticanos.
E se fora dos muros do clube a desconfiança e o desalento no seio da massa atleticana é cada vez maior, é bastante compreensível que este clima também contamine o ambiente interno e prospere nos intestinos do Atlético, de forma a comprometer ainda mais o rendimento do time em campo. Afinal, tudo o que acontece dentro de campo é consequência direta do que acontece fora dele, inclusive do que ocorre fora dos muros do clube. Mas, afinal de contas, os problemas atleticanos nasceram fora dos muros do clube e contaminaram o ambiente interno ou surgiram nos interiores do Atlético e, incontroláveis, ganharam o mundo? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Como um moto contínuo que se retroalimenta continuamente, os problemas do Atlético hoje em dia surgem e se potencializam aqui e ali, fora e dentro do clube, exigindo dos próceres atleticanos uma expertise que parecem não possuir.
Aqui, vale destacar que a pífia e triste atuação do Atlético diante do Botafogo não pode e nem deve encobrir a péssima atuação da arbitragem e o gol muito mal anulado do Galo em face de um impedimento de fio de cabelo, detectado a partir de uma imagem que se fosse congelada um segundo antes não flagraria a “infração”. Acertadamente, no segundo gol do alvinegro carioca o VAR fez outra leitura, considerando a movimentação relativa dos zagueiros atleticanos e do atacante botafoguense e fixando a imagem sem preciosismos e sem este falso rigor que têm provocado interferências indesejáveis em vários resultados ao longo do campeonato e colocando a credibilidade do sistema em xeque.
E por que isso aconteceu e tende a continuar acontecendo? A resposta é simples: em razão da fragilidade e da desimportância do Atlético no jogo dos bastidores.
Assim, muito mais importante do que perguntar o que está acontecendo com o Atlético neste horroroso ano de 2022, é preciso perguntar por que está acontecendo o que está acontecendo. O diagnóstico correto vai levar o clube ao prognóstico certo e, na sequência, à construção da solução adequada. O time atleticano e o clube estão “doentes”. É preciso que os “médicos” que deles forem cuidar, façam a propedêutica correta.
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*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.