O silêncio não comete erros e só os mortos e os idiotas não mudam de opinião

Por Hugo Fralodeo
15 fev 2024 11h20
Como o senhor, também não estou com muito humor para cerimônias, Scolari. Você pediu pesquisa, quer confronto, subir o tom…. Sou conhecido pela sutileza e destreza com as palavras (por vezes até demais), mas também sei dar um show. Como poucos.
Começando firme, eu odeio entrevistas coletivas. Principalmente as suas. Me lembra os tempos de Levir, nas duas passagens mais recentes. Não acrescenta praticamente nada ao que considero que a torcida deveria ouvir, mas sou “obrigado” a ouvi-las, dissecá-las e extrair o máximo de informações possível, pelo meu compromisso com meus irmãos torcedores e torcedoras.
Se torna quase um exercício antropológico. Óbvio, natural do ser humano: quando o tempo é bom, sorrisos. No tempo ruim, bufa (pelo menos, no seu caso). Mas, como diria minha mãe, “tudo demais passa”.
Não fui um dos que me encantei pelo seu canto da sereia, não fui um dos que me iludi com a arrancada na reta final da temporada passada, simplesmente apoiada em Everson, Arana, Paulinho e Hulk, que roubaram a cena, elevaram o conjunto e mascararam a quantidade enorme de defeitos que seu “time” tinha. Continuei, até certo ponto, batendo, continuei confrontando. Não me “decepcionei” por não ter conquistado o título porque nunca tive esperanças. Ao contrário da sua postura, porém, não quis arruaça, me mantive quieto, não jogo contra o Atlético. Nunca. Mas contra quem está prejudicando a razão de viver de milhões, sempre luto.
Você pediu pesquisa, nos acusou, comentaristas, analistas, jornalistas, apresentadores, narradores e todos do meio a não pesquisar, só “levantar a voz” para o senhor. Abro, então, um novo quadro na minha prancheta: ‘Desconstruindo os argumentos de Felipão para justificar (ou não) a má fase do Atletico’.
Seus antecessores não davam chances para a base?
Todos os jovens que estão no elenco hoje, excessão feita ao goleiro Matheus Mendes, quem promoveu ao elenco principal foi Eduardo Coudet, seu predecessor direto. Você ultrapassou o número de jogos dele diante do Tombense. Porém, durante a passagem dele, exceto Alisson e Rômulo, que ainda não jogou, todos os meninos, Paulo Vitor, Cadu e Isaac, além de Vitor Gabriel, tiveram mais minutos com Chacho.
Não preciso pesquisar, pois eu vi acontecer. Tinha a mesma coluna, fazia o mesmo trabalho, acompanhava e torcia pelo Galo da mesma maneira. Coudet não só efetivou essa turma no time de cima, como falou publicamente sobre o erro da transição do Clube, que obrigava os jovens a treinar com o grupo principal e retornar à base para disputar as competições sub-20, perdendo oportunidades de realizar treinamentos no profissional. Inclusive, Coudet mudou essa política, favorecendo justamente Alisson, Rômulo, Paulo Vitor, Cadu e Isaac, que já são “profissionais” há um ano.
Voltando um pouco mais atrás, me reservando o direito de ignorar a bagunça de Cuca em 2022, do pouco de positivo que a passagem de Antonio Mohamed pela Cidade do Galo deixou, o mais marcante é a ascensão de Rubens, que ainda tem 22 anos e vem sendo subutilizado pelo senhor, mesmo com o retorno de Arana. Rubens poderia muito bem ter mais chances que uns e outros vêm ganhando no meio-campo.
Quem prefere ter “hombridade” em defender Edenílson, elogiar Patrick do nada, citar a “perseguição” a Jemerson sem isso ser pauta, aprovar que o Clube gaste milhões de euros em um jovem de fora ao invés de dar chances a um menino de dentro, formado em casa, enquanto diz que os jovens precisam “estar melhores do que quem joga”, é o senhor.
A torcida não quer entender?
Nós temos anos e anos, décadas e décadas de Atlético. Tem torcedor que, apesar de não entender de futebol como o senhor, entende mais de Galo do que da própria vida. O torcedor está no papel dele. O senhor deveria assumir o seu.
A Massa está cada vez mais cansada de discurso pronto atrás de discurso pronto. De mudança no discurso pronto atrás de mudança no discurso pronto. De contradições atrás de contradições.
Mais vale a postura de um Paulinho, que sabe que não está bem, evita falar para não ser repetitivo ou não dizer qualquer coisa de cabeça quente, do que falar por ser obrigado e ficar emperrado em respostas vazias e tentativas desesperadas de mudança de foco.
Falei do anúncio da saída de Jürgen Klopp do Liverpool há algumas semanas. Outras culturas permitem a compreensão de que o anúncio do fim de um ciclo não encerra esse ciclo imediatamente. No Brasil, no entanto, as pessoas não estão preparadas. É inadmissível um treinador falar sobre aposentadoria na sua primeira aparição pública no início da temporada. Em qualquer outra área de trabalho, um profissional sério teria o discernimento e cuidado. Em qualquer ambiente sério que não fosse o futebol, tal profissional seria desligado imediatamente.
Não se forma um time campeão? O “simples manter do elenco não é o essencial para ser campeão de todos os campeonatos?”
Então por que caralho o Palmeiras vem empilhando taça atrás de taça com a manutenção de Abel e turma?! Não é o que cada um no meio do futebol, interno e externo, diz?! Não foi o que o senhor disse nessa mesma coletiva em que, aos risos, falava dos planos de aposentadoria?! Ou sou eu que estou errado quando ouvi, transcrevi e publiquei que saiu da boca do senhor que “o Atlético é candidato a todos os títulos”?! Inclusive, o senhor disse com todas as letras que o time não poderia fazer o mesmo que fez no ano passado. E o seu time está fazendo exatamente a mesma coisa. Aliás, exatamente não, pois dessa vez não acho que terá uma “reação”.
Posso ser muito mais jovem que o senhor, posso errar muito na vida ainda. Errar uma vez pelo inesperado, errar outra pela empolgação de uma retomada, são coisas completamente diferentes do que errar por teimosia.
O silêncio nunca cometeu erros. Somente os mortos e os idiotas não mudam de opinião. Sendo completamente honesto, eu mudei de opinião duas vezes em relação ao senhor. Primeiro, logo após a sua chegada, quando passei a pensar que, ao invés de “não deve dar certo”, que sua passagem pelo Atlético realmente não agregaria nada. Depois, mais recentemente, quando passei a achar que sua real intenção só pode ser passar uma vergonha maior do que o 7×1 para tentar apagar isso da memória dos brasileiros.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.