Número ‘diferente’ escolhido por Scarpa no Atlético marcou craques na Europa
Por Hugo Fralodeo
Apresentado oficialmente como jogador no Atlético na Arena MRV nesta segunda-feira (15), Gustavo Scarpa surpreendeu na escolha do número em que carregará nas costas do Manto.
Apesar de não ser muito habitual ver meias o utilizando em solo brasileiro, o número 6, mais comum para laterais-esquerdos por aqui – e, em alguns casos, por meio-campistas mais defensivos, como Tchê Tchê, no Botafogo, e Jean Lucas, no Bahia -, marcou a história de alguns craques da meia-cancha na Europa.
Sem a 14, que tinha em sua melhor fase – até aqui – no Palmeiras, ou a 10, que teve no Fluminense e no Olympiacos, Scarpa revelou que a escolha se deu porque o 6 era seu número preferido das camisas disponíveis.
História dos números nas camisas de futebol
Os primeiros registros da utilização de números para diferenciar jogadores de futebol remetem ao ano de 1911, na Austrália. Dois anos depois, em 1923, durante uma excursão da Argentina na Escócia, os times utilizam a numeração de 1 a 11, consagrada até a introdução da numeração fixa, nos anos 90 – mais tarde, prática adotada no Brasil.
A numeração atribuída a jogadores de determinadas posições no campo foi fundamentada transições táticas que aconteceram a partir dos anos 30, quando o número acompanhava a disposição do jogador da direita para a esquerda, partindo do 1, vestido por goleiros, na maioria dos casos.
Com a introdução das linhas de 3 defensores, diferentes países atribuíram diferentes funções a seus novos ‘backs’, recuando jogadores de diversas características para a primeira linha. (Sim, há quase um século, já havia a noção da relação função/característica/posicionamento).
Por conta disso, a variação de números para jogadores de defesa e meio-campo nos países mais tradicionais no futebol.
O WM e a confusão inglesa
Na Inglaterra, o treinador Herbert Chapman criou o sistema WM, recuando o central da primeira linha no meio-campo – que usava a 5 – para a linha defensiva, que antes era composta pelos zagueiros 2 e 3, os dois primeiros jogadores de linha do time, criando o ‘centre Back’, nosso zagueiro central.
Quando, em 1939, a FA – Federação Inglesa – tornou obrigatória a utilização de números, os times que ainda eram escalados no 2-3-5 tinham o camisa 5 como o defensor da direita.
Quando a Seleção Húngara, potência na época, goleou a Seleção Inglesa em 1953, utilizou o WM, mas com a volta da disposição da esquerda para a direita dos números, tornando o zagueiro da esquerda o número 4.
Apesar de parecer lenda, a numeração ‘ímpar’ dos húngaros confundiu os ingleses, que eram habituados a definir a marcação dos jogadores pelo número que vestiam. Tal fato culminou na criação da ‘pirâmide’, pelo treinador Peter Doherty, que começou a inverter os números de seus jogadores para confundir os adversários no campeonato inglês.
A linha de 4 na América do Sul
Na Argentina, quem desceu para a linha de defesa foi o meio-campista da direita, que tinha a 4. Na década de 40, os hermanos já esboçavam o conceito de lateral-direito – introduzindo o protótipo do ‘right Back’, mas ainda com uma linha de 3. Sim, eles jogavam com dois zagueiros na área e um mais aberto pela direita.
Na introdução das linhas de 4, os argentinos recuaram o meio-campista da esquerda, o número 6, trazendo então o quarto zagueiro para a conversa, ficando com a linha defensiva tradicionalmente numerada em 4-2-6-3.
Diferentemente, no Brasil, ao invés desse meio-campista descer para a zaga, ele foi para o lado esquerdo, nascendo o conceito do ‘left beck’. Da esquerda para a direita, como conhecemos tradicionalmente, 2-3-4-6, ainda que alguns times tenham mantido o conceito da disposição lateral dos números, dando a 5 ao lateral-esquerdo.
No Uruguai, por sua vez, a mudança aconteceu com o recuo mútuo dos meio-campistas da direita (4) e esquerda (6) para as laterais, vindo os ‘full backs’ numerando a linha defensiva em 4-2-3-6.
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O primeiro volante
Claro, com a mudança nos sistemas e a entrada da linha de 4, houve o impacto no meio-campo, em posicao e numeração.
Sozinho, o primeiro volante, por conta das diferentes transições ao redor do mundo, também carrega números diferentes em determinados países. Na Inglaterra, acabou com a 4. No restante da Europa, a maioria dos países adotou o número 6, baseado na posição dos ‘sechsers’ (seis-es) alemães. Na América do Sul, os protetores da linha de defesa acabaram com a 5.
Craques do meio-campo com a 6
Já sabemos que, em determinados países, a 6 é mais comumente utilizada por meio-campistas, em suma, mais defensivos. Porém, com a introdução de sistemas mais ofensivos e a aparição de meio-campistas mais versáteis, além, claro, da já citada introdução da numeração fixa, meias mais avançados ficaram notabilizados pelo número escolhido por Scarpa no Galo.
Xavi (Barcelona), Iniesta, autor do gol do título Mundial da Seleção Espanhola, Thiago Alcântara, campeão da Champions League por Bayern e Liverpool, no Brasil, Didi, bicampeão Mundial com Seleção Brasileira e eleito melhor jogador da Copa de 58, Pogba, campeão Mundial pela França, fora jogadores mais recuados, como Rojkaard (Milan e Holanda), Kimmich (Bayern), Redondo (Real Madrid) e diversos outros fizeram história no futebol mundial com a 6 fora da lateral-esquerda ou “presos” como primeiro volante, assim como esperamos que seja para Scarpa no Atlético.
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