Royalties de uma paixão

Por: Silas Gouveia
Nos tempos atuais, as notícias e informações se propagam em milésimos de segundos. Um fato que acontece a milhares de quilômetros de onde se vive, pode chegar até nós mais rápido do que às pessoas que estão a uma quadra de distância do ocorrido. E tudo isto sem filtros, sem análises, sem confirmações em alguns casos. Talvez daí venha o grande nascedouro das já conhecidas Fake-News.
As notícias sempre foram a mola mestra de qualquer economia. Notícias e informações são bens cada vez mais procurados e consumidos nesta era da tecnologia virtual. Notícias trazem informações, mas nem sempre as informações são corretas ou seguras. O risco de se valer de uma informação não confiável é bastante grande e perigoso. Governos de todo mundo costumam ter serviços de investigação e controle sobre as informações de seus países e mesmo das empresas de seus países, pois uma notícia falsa pode comprometer a economia de um país ou a saúde financeira de uma empresa.
Mas não há como frear ou controlar a propagação de notícias e informações. Elas devem ser, na verdade, estimuladas. Quanto mais notícias ou informações, melhor para que se consiga fazer uma avaliação pessoal entre o que se deve considerar como certo, errado, ou indiferente. Saber conhecer. Este é o propósito da informação. Quando se sabe de alguma notícia, em geral busca-se mais conhecimento e informações sobre o que se leu ou ouviu. E isto é benéfico, mesmo em um mundo tão sectário e divisionário como o que vivemos atualmente.
E quando tratamos de notícias ou informações sobre uma paixão? Qual deveria ser o papel do jornalista, radialista, blogueiro, influencer, ou qualquer um que se aventure no ramo da disseminação de notícias? Qual a conduta deveria ser adotada? Quais os riscos estariam envolvidos em uma simples postagem aleatória sobre esta paixão? A resposta imediata é: Não há regras e nem condutas definidas. Cada um usa sua consciência, ou a falta dela.
Mas se a notícia ou a informação é de fato um bem super consumido e valorizado, deveria haver algum tipo de conduta em retribuição a quem gera esta paixão. Por exemplo: As redes de TV’s pagam verdadeiras fortunas aos clubes, para terem o direito de explorar as imagens de seus jogos. Tanto faz o esporte que estejamos falando, sempre há alguma rede de TV interessada em transmitir jogos de esportes como basquete, vôlei e futebol especialmente. Por conseguinte, estas empresas acabam tendo algum privilégio em entrevistar atletas e fazer a cobertura de notícias, com informações por vezes privilegiadas por alguns clubes. Pode ser cruel, mas não chega a ser anti-ético que estas empresas consigam mais “furos” de reportagens que as demais. Afinal, elas pagam mais que as outras para terem algum privilégio. O mundo real funciona assim. Quem me paga mais, merece um tratamento diferenciado. E isto é bom tanto para o clube, quanto para a rede que está pagando pelo produto; Informação!
E quanto a inúmeras outras empresas, que não pagam por isto mas que vivem disto? E quanto as emissoras de rádio, que não pagam pela transmissão dos jogos, mas lucram enormemente com os comerciais exibidos naquele horário do jogo? E quanto aos portais de informações da internet, que em sua grande maioria, apenas capturam notícias ou informações de um outro veículo, na maioria das vezes sem se sequer dar os créditos da originalidade daquela informação? O que o clube ganha com isto? O que se pode ter de benefício na exploração de notícias ou informações sobre uma paixão de milhões? O que se pode gerar de benefícios com isto? A resposta parece ser simples: Mais informações! Mas estas informações deveriam ser seguras, confiáveis, isentas e divulgadas de forma ética. Infelizmente, a ética e a conduta isenta, têm sido cada vez mais deixadas em um segundo plano quando o assunto é o esporte.
A questão sobre o convívio entre os meios de comunicação e os clubes, nem de longe pode ser encarada sob uma ótica cartesiana, onde o certo é o certo e o errado é errado. Vários clubes, ou pessoas ligadas aos clubes, ao invés de buscar serem ressarcidos pela exploração de sua imagem, ao contrário pagam para que ela seja divulgada e não raro, manipuladas. Este pagamento, quando feito de forma institucionalizada já deveria ser motivo de um certo rigor e controle. Afinal, aquela emissora que é paga para anunciar alguns de seus produtos, é a mesma que irá fazer a cobertura jornalística do clube. Aquilo que deveria ser meramente uma questão comercial, pode passar a ser uma grande troca de favores. E quando esta troca não está bem equilibrada, ou a parcela de determinado mês ainda não foi paga, ou quando se cancela este acordo comercial, não raramente se vê gerar uma situação de “revide” por parte de quem perdeu seu quinhão. São coisas que acontecem diariamente e já há bastante tempo. Está enraizada no meio e parece que todos já se acostumaram a isto. É quase uma praxe este tipo de conduta.
Há situações, talvez derivadas deste mesmo envolvimento comercial entre clubes e meios de comunicação, que são muito piores e mais perigosas que os acordos comerciais de divulgação. E estas situações são camufladas, escondidas e danosas. Muitas vezes estão disfarçadas de amizades entre profissionais, mas no fundo são situações que foram sendo criadas ao longo dos anos, de uma verdadeira e nefasta simbiose entre funcionários de um clube e profissionais da informação. Um exemplo claro disto foi desnudado com o caso do Cruzeiro Esporte Clube, quando da divulgação de informações sobre pagamento de valores a jornalistas e pessoas ligadas aos meios de comunicação. Verdadeiras vinculações tendenciosas entre quem deveria informar e aqueles que geram as notícias ou os fatos, distorcendo informações e manipulando fatos, de forma a encobrir a situação absurda criada por administração criminosa. E o resultado de tudo isto estamos vivenciando agora, com uma crise financeira sem precedentes na história de uma instituição centenária. Em que pese ser um clube rival, o exemplo sempre permanecerá na memória de cada torcedor. E a responsabilidade de quem colaborou de alguma forma para isto, também.
Em tempos de proliferação dos meios virtuais de informação, onde todos podem criar seu próprio canal no Youtube e começar a produzir conteúdo de forma indiscriminada, os riscos de alguma vinculação nefasta entre clubes e meios de comunicação, se tornam muito grandes. Ninguém se parece preocupado de fato com o futuro de seu clube. Contando que ele próprio consiga sobreviver com suas matérias e postagens. Não há qualquer tipo de preocupação com a ética e tampouco com a isenção. Na verdade, o que de fato importa é tão somente conseguir o maior número de visualizações possível e com isto obter patrocínios e monetização por parte das redes sociais. A conta é simples: Quanto mais pessoas assistirem a um vídeo, ou comentarem em cima de uma postagem do Instagram ou Twitter, mais grana se consegue arrecadar e assim, criamos verdadeiros profissionais do já apelidado “Click-Bait”.
Esta lógica e a matemática envolvida nestes casos, também é bastante simples e, de certa forma, fácil de se conseguir. Quanto mais se conseguir chamar a atenção para uma matéria ou postagem que fizer, mais pessoas irão comentar, replicar, curtir e divulgar sobre este assunto. Tanto faz que a matéria seja mentirosa, ou que não siga regras básicas sobre ética e conduta. Aliás, em muitos casos quanto menos ético, melhor. Quanto mais apelativa for uma chamada, mas curiosidade irá produzir e mais pessoas irão ao menos tentar ler sobre do que se trata, embora nestes casos a pessoa geralmente sai decepcionada com o conteúdo e por isto nem volte mais àquele canal ou rede social. Não importa! O objetivo inicial já foi atingido.
O que se busca ao chamar para uma reflexão sobre este assunto, é convidar a todos os envolvidos, incluindo é claro os leitores e seguidores, que se discuta uma forma de agir com mais ética e responsabilidade. Se a pessoa quer fazer dinheiro explorando notícias de seu clube, seja pelo menos ético e isento. Não tenhamos um funcionário de estimação dentro do clube e muito menos um Judas, a quem se queira queimar sempre que possível. Não propaguemos informações falsas e muito menos mentiras. Não colaboremos para que inimigos do clube de sua paixão, use de seus serviços para encobrirem falcatruas ou práticas de má gestão, pois a vítima fatalmente será quem contribuiu para isto. Não pensemos que milhares de seguidores, ou o sucesso efêmero de um programa da rádio ou Youtube, irão proteger quando as coisas saírem do controle. Lembremos que os “prints” são eternos. Cuidemos então para que estes sejam mais positivos do que negativos, pois é certo que todos teremos.
A falta de um norte, ou a busca desenfreada pelos “click-bait” poderão facilmente fazer com que a chamada mídia alternativa se enverede pelos rumos equivocados percorridos pela mídia tradicional, quando esta decidiu trilhar por caminhos tortuosos de aproximação de relações entre profissionais de comunicação e integrantes dos clubes. As redes sociais não são terra sem lei e deveriam ser melhor cuidadas. Afinal, por trás de tudo isto, há uma pessoa e um CPF. Que todos possamos fazer nossos trabalhos, sendo ou não remunerados por ele. Devemos lutar para fazer com que os royalties desta paixão sejam principalmente a ética e a responsabilidade de cada um.