Opinião: Itabirito x Atlético em Brasília esvazia o Campeonato Mineiro e reforça o argumento ‘anti-Estaduais’

Por Hugo Fralodeo
17 fev 2024 08h00
Neste sábado (17), às 16h30, diante do Itabirito, o Atlético fará sua sexta partida pelo Campeonato Mineiro. Após jogos em Patrocínio e São João del-Rei, o Alvinegro viaja pela última vez na fase classificatória, pois faz seus dois últimos jogos em Belo Horizonte, contra América, no Independência, e Ipatinga, na Arena MRV.
O destino, vejam bem, Brasília. Mais precisamente, o Estádio Mané Garrincha, uma vez que o jovem time da região metropolitana de BH, que debuta na elite do futebol mineiro, depois de boa proposta financeira, resolveu levar para a capital federal um jogo válido pelo Estadual de Minas Gerais.
Para quem acha isso normal, tudo bem. Para quem se acostumou com a bizarrice banal do futebol nacional, tudo bem também. Eu é que não vou fazer parte da turma que finge que o trem é desse jeito mesmo e vamo que vamo.
Para começar, até a manhã de sexta-feira (16), pouco mais de 24 horas antes d apátrida, não se sabia se o estádio teria condições de receber o jogo, pois o gramado, preste atenção na novidade: em um lugar que o histórico enaltece sua “qualidade”, não teria as condições ideais para receber um jogo de futebol, já que sediou eventos durante o Carnaval. O mais impressionante é que o jogo foi confirmado há um mês, e ninguém, assim como muito provavelmente aconteceu em Patrocínio, deve ter se prestado a se preocupar com tal questão. Coisas do futebol.
Também quero já deixar claro que não tenho nada contra o Itabirito. Apesar de ter sim algumas ideias conflitantes com quem anda fazendo futebol por aí, como “onde”, “como” e “para quê”. Se o regulamento permite, ainda que ele seja esdrúxulo, o que fazer, né? Meu ponto é contra o Campeonato Mineiro. Aliás, contra a instituição Campeonato Estadual.
Como uns e outros por aí, retrógados, ultrapassados e precisando de uma recauchutada urgente, os estaduais pelo Brasil vão tomando tempo, dinheiro, energia e possibilidade de crescimento dos clubes. E não falo só da elite. Não. Tal modelo vigente mata, depressa, os menores.
Olhem o absurdo: o Mineiro dura cerca de três meses, suas duas únicas fontes de renda são bilheteria e direitos de transmissão, que mal chegam ao valor de um mês de folha salarial do Atlético, por exemplo. E não se trata nem do pior modelo, pois, ainda que a fórmula de disputa permita um Atlético pífio chegar às semifinais, ao menos tem duas datas a menos que a maioria dos outros certames.
E não adianta tentar me convencer de que o Estadual é a oportunidade do torcedor do interior ver o Atlético de perto. Pois é, o Galo foi a Patrocínio e deu naquilo, foi a São João del-Rei, que mais um pouco seria região metropolitana de BH, e o Itabirito, além de vender o mando, joga contra os outros no Independência. Sem contar o descaso com o próprio torcedor do interior. Preciso lembrar os crimes cometidos em Ipatinga no ano passado?
Voltando ao dinheiro, não há argumentos que tirem da minha cabeça que o Estadual não é salvação dos clubes de menor expressão, uma vez que tais clubes precisam vender mando de campo para outros estados para terem condições de existir durante o campeonato. A maioria esmagadora não olha para baixo e não faz ideia que a FMF tem procurado clubes interessados em assumir as vagas da Federação no Campeonato Brasileiro da Série D, já que ninguém tem condições financeiras de se comprometer com a disputa.
Não adianta também invocar o romanticismo e a história dos Estaduais, dizer que revelaram inúmeros jogadores que não teriam a oportunidade de aparecer se eles não existissem, isso ficou no passado, cada vez mais distante. É papel da FMF e da CBF fomentar o futebol brasileiro, não do Atlético carregar todos nas costas. O Galo mal está conseguindo arcar com suas próprias responsabilidades….
Quer valorizar o Campeonato Mineiro? Quer dar condições dignas aos clubes sem divisão do país? Quer modernizar o futebol sem perder a essência? Crie divisões regionais para o Campeonato Brasileiro, aumente a Copa do Brasil, acabando com essa besteira de distribuir vagas pela classificação nos estaduais e reformule a disputa deles.
Imagine um Campeonato Mineiro no formato de copa, onde os times menores se dividam por regiões: Triângulo, Vale do Aço, Alto Paranaíba… forma-se grupos com esses times, que sediam e recebem os clubes da capital. Quatro grupos com quatro clubes por região, três jogos por clube na primeira fase. Semifinal e final em jogo único em Belo Horizonte, com torcida e sempre com rendas divididas.
Traria, além de impacto na economia das regiões, competitividade para as regiões de Minas Gerais, rivalidades para os clubes de uma mesma região, a possibilidade real do torcedor do interior ter o contato efetivo com o clube da capital, além de permitir a sobrevivência de todos. Período menor de disputa, possibilitando que o Atlético, por exemplo, faça uma pré-temporada decente, com chance, inclusive, de fazer excursões no exterior, valorizar a marca e capitalizar um pouco mais, claro.
Boas ideias não faltam, o que falta é inciativa, vontade de fazer algo relevante de fato. Mas se o sol não está batendo na minha sombra, por que eu vou me virar?
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.