Fuchs indo bem é questão tática. Coudet o considera o zagueiro ‘perfeito’ para seu sistema de jogo

Por: Hugo Fralodeo
Em fevereiro de 2020, momentos antes do seu primeiro Gre-Nal, Eduardo Coudet pegou muita gente desprevenida quando promoveu a entrada do jovem zagueiro Bruno Fuchs – que acumulava apenas 10 partidas no futebol profissional – no miolo de zaga titular do Inter, sacando o experiente Rodrigo Moledo. Dali para frente, Fuchs atuou em somente mais 11 partidas com a camisa do colorado, sendo negociado com o CSKA poucos dias após a retomada da temporada após a paralisação dos campeonatos devido à pandemia do COVID-19.
Na Rússia, o zagueiro pouco atuou. Logo na sua estreia, sofreu uma lesão muscular na coxa direita, o que se repetiu pouco depois, obrigando-o a passar por cirurgia corretiva, ficando quase 10 meses longe dos gramados. Com a confiança da comissão técnica da Seleção Brasileira sub-23, mesmo com tanto tempo inativo e sem atuar 90 minutos há quase um ano, Fuchs foi convocado para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, disputados em 2021. Porém, o zagueiro também não atuou na competição. Na mesma época, Coudet tentou levar seu pupilo para a Espanha, mas as negociações entre Celta e CSKA não avançaram.
Fuchs permaneceu no CSKA, voltou a sofrer com problemas musculares e não conseguiu ganhar espaço antes do ‘russão’ ser interrompido pela invasão russa à Ucrânia, tendo também penado para conquistar a confiança do treinador na retomada das competições, atuando em oito jogos de 14 possíveis, acumulando 471 minutos na temporada 22/23.
Bem, mas qual o motivo de Chacho ter solicitado ao Atlético a contratação de um zagueiro que conviveu com problemas físicos e soma apenas 40 jogos em pouco mais de três anos atuando no futebol profissional? Simples, a questão é tática. Coudet enxerga em Fuchs – que seria o protótipo do ‘zagueiro perfeito’ – o defensor ideal para seu modelo de jogo.
Na coletiva pós-derrota naquele Gre-Nal de fevereiro de 2020, Chacho foi questionado sobre a opção pelo menino de 20 anos, que havia recém-retornado da disputa do pré-olímpico, e a resposta foi simples e direta: Fuchs ganhou a vaga de Moledo por dar mais qualidade no primeiro passe, se adequando a uma das ideias bases do treinador: montar um time que construa o jogo desde trás.
Até a categoria sub-17, Bruno Fuchs jogava no meio-campo, adquirindo visão de jogo, qualidade no passe e características para construir. Quando fez a transição para a defesa, aprimorando também o poder de marcação, o menino passou a ser figurinha carimbada nas seleções de base do sub-17 ao sub-23, tudo por conta de sua qualidade técnica aliada ao seu porte físico (1,90m) e sua capacidade de recuperação. Fuchs é um zagueiro rápido, alto e técnico, ou seja, o desejo da maioria dos treinadores.
No esquema de Coudet, a dupla de zaga é que forma a base das jogadas e, por atuar quase sempre em linha alta, há a necessidade de que os zagueiros tenham velocidade e capacidade de correr para trás, caso haja a necessidade de perseguir os atacantes adversários que ataquem o espaço vazio nas costas dessa primeira linha. Por isso, a presença de Fuchs no elenco é praticamente auto-explicativa: ele tem apresso pela bola, é capaz de iniciar a construção a partir do passe curto, da bola longa e do avanço com a posse. Com força física e imposição, além da rapidez, pois pode ser capaz de apostar corrida com os atacantes adversários sem deixar a dever e se reposicionar de forma mais fluida na transição defensiva.
Eu mesmo disse (e mantenho a postura) que é cedo para qualquer conclusão, mas o moço estreou bem demais com o Manto. Claro, é a Caldense, repito, é o primeiro jogo, mas Fuchs já deu uma prévia do que pode vir a ser.
Acertou 85% dos passes tentados (55/65), inclusive, a maioria verticalizando, apenas oito foram direcionados para trás. Ainda, 32 passes foram com direção a jogadores posicionados a sua frente, mesmo que tenha mais se associado (contando a relação mais recebeu/mais passou) com Everson, Jemerson e Dodô, o que sustenta a ideia de que pode vir a ser um dos líderes da primeira construção do time, o que fica evidente quando observamos que 24 destes 32 passes foram com destino aos meias e aos atacantes.
Claro, defendendo o homem também foi bem. Ganhou todas as oito disputas que teve, seja pelo alto, por baixo, na defesa ou no ataque, demonstrando também segurança. Continuo acreditando que é cedo para qualquer conclusão, além de que, por já ter trabalhado com o professor e estar habituado a sua metodologia de treinamento e esquema de jogo, muitos mais pontos são acrescidos na conta do jovem zagueiro, que se torna perfeito para seu comandante, a partir do que Chacho espera e exige de um zagueiro.
Foto: Pedro Souza/Atlético