Dois homens e uma certeza: não dá para ter dois times

Por Hugo Fralodeo
Achou que eu iria sentar lenha em um ou outro, né?! Achou errado. Confesso que estava esperando tal assunto cair no meu colo, mas não para tecer críticas vazias. Aliás, já tiro da frente o muro: tanto Chacho quanto Hulk estão errados. Porém, dependendo do ponto de vista que você estiver enxergando, os dois têm sua razão. A única certeza neste momento: (ainda) não dá para o Galo ter “dois times”. E eu vou explicar o motivo.
Começando pelo começo: Sim, o elenco é curto. Sim, Chacho tem medo de perder jogadores, e ele tem razão nisso. Fora Alan Kardec, Arana e Rabello, que já iniciaram a temporada lesionados, Allan, Otávio, Pedrinho e Saravia estão fora por lesões musculares. E já foi Jemerson, Lemos, Fuchs, Zaracho, Pavón, Patrick, Paulinho, Hyoran, Vargas, Dodô…. Lembra? Até o momento aonde Chacho teve como opções para jogos de Copa Isaac e Cadu, ou quando teve apenas seis jogadores de linha para montar o banco de uma partida (já decisiva) do Campeonato Brasileiro.
A rotação pertence ao futebol. Não só porque um time joga oito jogos por mês e os jogadores estouram seus músculos, também há suspensões e outros fatores externos que impedem a utilização contínua dos mesmos 11 jogadores. Portanto, Coudet está certo quando diz que precisa rodar.
O que não tira a razão de Hulk em dizer que o jogador se sente mais confiante quando tem uma sequência. Mas aqui há dois fatores, o psicológico e o físico. Todo jogador quer jogar, e apesar dos tempos terem mudado em relação a isso, o status de titular em um grande time muda sim a cabeça de qualquer jogador. Na parte física, o próprio camisa 7 já deixou mais do que claro que jogar quarta e domingo é o que te faz se manter no ápice da forma. Mas não é o caso da maioria esmagadora dos outros jogadores. Repito: Allan, Otávio, Pedrinho e Saravia estão no DM, Jemerson, Lemos, Fuchs, Zaracho, Pavón, Patrick, Paulinho, Hyoran, Vargas e Dodô passaram recentemente por lá, ainda que por dois ou três dias. 14 atletas já perderam jogos pelo desgaste físico.
O que nos faz dar mais uma volta no ciclo: uma coisa é rodar o elenco, outra é impedir a sequência de quem está entregando. Igor Gomes e Pavón foram os grandes nomes na quarta e foram parar no banco no domingo. Não entro detalhadamente no mérito da questão física, mas neste caso específico, eles deveriam ter sido mantidos, até por terem sido acionados no intervalo de jogo no Nilton Santos. Na prática, não foram preservados. Mas tem outro ponto, Hyoran também vinha muito bem, Hyoran também merecia jogar, Hyoran também foi sacado recentemente, Hyoran também se machucou recentemente. Vê como o treinador e os próprios jogadores ficam reféns do corpo e de decisões tomadas a partir da precaução?
Aparentemente, Coudet confia em todo o seu elenco disponível, mas é claro e evidente que alguns jogadores têm merecido mais minutos do que outros. Então, chegamos ao fim da roda: uma coisa é manter a rotação para evitar o pior, outra bem diferente é escalar um time no meio de semana e outro time no final de semana.
Chacho até foi bem ao justificar as mudanças que fez. Em relação à vitória sobre o Alianza Lima, na quarta (3), cinco mudanças: Mauricio Lemos, preservado no meio de semana, Mariano e Paulinho, suspensos na Libertadores, Edenílson e Hyoran entraram para as saídas de Bruno Fuchs, Nathan Silva, Igor Gomes, Pavón e Vargas. Everson, Jemerson, Rubens, Battaglia, Zaracho e Hulk foram mantidos. Quando comparamos o time que começou diante do Botafogo e o 11 inicial contra o Athletico-PR, no final de semana anterior, apenas duas mudanças, e por ordem médica, já que Saravia e Otávio estão lesionados (olha a roda girando…).
Entretanto, isso é algo recente. Ainda que os jogadores já estejam mais habituados ao modelo de jogo, já tenham mais naturais os mecanismos, já conheçam o posicionamento ideal, já consigam entender o que Chacho quer, isso tudo ainda não é orgânico o suficiente para que a forma de se dispor em campo seja diferente de um jogo para outro. Traduzindo: Ainda não dá para Jemerson jogar com Dodô ao seu lado na base em um jogo e com Rubens ou Patrick subindo e deixando o meio espaço livre no jogo seguinte, o mesmo se repete com Lemos, Mariano, Saravia e Pavón pelo outro lado. Ainda não é viável Battaglia ter Zaracho perto no meio de semana e vê-lo mais pela direita no final de semana. Ainda não é possível que Edenílson jogue uma mais centralizado e vá aparecer aberto na outra…. Apesar de já serem cinco meses, Coudet e os jogadores ainda não têm o domínio do campo.
Não significa que a rotação tenha que acabar. Os atletas continuarão se desgastando, o risco de lesões em um elenco já curto continua latente, mas tudo se trata de equilíbrio. Coudet precisa encontrar o balanço ideal entre preservar seus atletas, entrosá-los, acostumá-los a uma forma de jogo e entregar mais minutos àqueles que estão em melhor fase.
Aos jogadores, seja quem estiver em campo: pé na forma.