Ator Paulo Betti enaltece heroísmo de Reinaldo ao comemorar gol na Copa de 1978

Por: Hugo Fralodeo
Mar del Plata, Argentina, 3 de junho de 1978. Primeira rodada da fase de grupos do grupo C da Copa do Mundo. Brasil x Suécia. Aos 45 minutos da primeira etapa, Toninho Cerezo cruzou bola da direita, Reinaldo – que só foi convocado pelo clamor do povo -, se antecipou à marcação e bateu na saída do goleiro, empatando a partida em 1 a 1.
Não foi o gol do garoto de 21 anos, já craque do Atlético, que ficou para a história. Na comemoração, aquele que ainda seria condecorado o rei de toda uma Massa, como fez antes tantas vezes com a camisa 9 do Galo, depois de poucos segundos de expectativa por parte de quem assistia e hesitação do próprio, enquanto a bola ainda estava dentro do gol dos suecos, cerrou o punho e ergueu o braço direito.
À época, com a maioria da América Latina tomada pelos governos militares, a comemoração de Reinaldo foi considerada uma afronta. Nas palavras do próprio, comemorar seus gols com inspiração no movimento dos Panteras Negras e nos atletas olímpicos Tommie Smith e John Carlos – que, da mesma forma, protestaram contra o racismo nas Olimpíadas de 1968, ao receberem as medalhas de ouro e bronze, no pódio dos 200 metros rasos, na Cidade do México -, era um gesto socialista, um protesto contra a ditadura.
Ao manter o braço erguido, Reinaldo deu o recado ao mundo e impressionou milhões de pessoas que assistiam à partida, como é o caso do ator Paulo Betti, que lembrou o ato de Reinaldo no quadro da TV Globo ‘A Copa Que Eu Vi’, na noite do último sábado (10):
“O fato interessante é que o Reinaldo marcou o gol de empate contra a Suécia e na hora ficou meio em dúvida se comemorava do jeito tradicional ou com os braços abertos. Era um recado aquilo que o Reinaldo fazia. Irritava a ditadura. Era um símbolo de revolta contra o fascismo. Foi de uma coragem. Ele quase não jogou mais. Para mim é um herói”.
Reinaldo ainda esteve em campo no jogo seguinte, o empate sem gols contra a Espanha, mas foi barrado logo depois, voltando a campo naquela Copa só na disputa pelo terceiro lugar, contra a Itália, saindo do banco após o intervalo.
Antes do início da disputa, Reinaldo já havia sido recomendado a não comemorar daquela forma na Argentina, nem comentar sobre política em eventuais entrevistas. Inclusive, no embarque para a disputa da Copa, em Porto Alegre, ao ser cumprimentado, Reinaldo ouviu do presidente Ernesto Geisel a seguinte ordem: “Vai jogar bola, garoto. Deixa que política a gente faz”.
De fato, Reinaldo jogou muita bola. Com a bola nos pés e o punho em riste após marcar cada um de seus gols, Reinaldo foi e continua sendo um herói.