Nacho Fernández, o craque silencioso, incompreendido e subvalorizado por alguns

Por: Hugo Fralodeo
Ignacio Martín Fernández encerra sua brilhante e vitoriosa passagem pela Cidade do Galo. Em 22 meses com o número 26 às costas do Manto, o Cérebro nos deu o prazer de vê-lo entrar em campo 109 vezes (oitavo estrangeiro com mais jogos), anotar 19 gols (sexto gringo com mais gols) – muitos deles decisivos – e ceder outros 21 aos seus agora ex-companheiros, desempenho que o fez melhor meio-campista do Brasileirão 2021, tanto pela premiação da CBF quanto da Bola de Prata, além de peça fundamental em seus outros quatro títulos por aqui.
Nas duas temporadas em que Nacho jogou pelo Atlético, somente Givanildo tem mais participações em gols do que o argentino. Nesta conversa, só entra os dois únicos jogadores de todo o elenco a terem duplo dígito em gols e assistências no período. A título de comparação, para superar o número de participações em gols de Nacho em 2021 e 2022, precisa-se somar as assistências e gols de Keno e Zaracho, que participaram de 43 gols juntos nos dois anos. Ou seja, o cara é decisivo.
Há quem diga que ele foi um “reserva de luxo” na Era Cuca, mesmo tendo sido titular em 80% (86/109) de seus jogos pelo Atlético. Há outros que o consideram um meio-campista menos intenso e com físico avariado, esquecendo que ele não havia disputado tantos jogos em um ano antes dos 52 que jogou em 2021, “recorde” que bateu em 2022, quando foi o terceiro do elenco do Atlético em número de jogos – atrás de Everson (58) e Ademir (60) – e também terceiro em minutos – perdendo para Allan e Everson.
Eu não vou entrar no plano tático para explicar que ele jogou a maioria do tempo fora de posição e vou jogar no lixo os números que trouxe nos dois parágrafos anteriores para tecer meus comentários sobre este craque que deixa o Galo. Também não vou entrar na discussão se o negócio ($) foi bom ou não. Você, que não gosta, você que acha que o jogador do River não chegou a Belo Horizonte, eu não vou tentar mudar sua opinião. Você que, como eu, sente pela grande perda, eu também não quero te dar motivos para “vencer” discussões. A prancheta é minha, só quero tornar público o meu testemunho.
Nacho é um cara low-profile, nunca foi midiático, não é de sorrisinhos. Nacho entra no campo de treino ou de jogo, faz seu trabalho, depois descansa e recomeça tudo de novo. Como alguns outros tanto fizeram, Nacho nunca fez questão de ‘jogar pra galera’, mostrar que estava “correndo”, dar o carrinho desnecessário da auto-promoção, comemorar gesticulando para organizadas, provocar adversários.… Nunca se falou em “chapada do Nacho”, nunca foi garoto propagando de concurso de drible ou embaixadinhas, Nacho sempre foi “só” futebol. E é isso que importa. Nacho, assim como dentro de campo, quebrando linhas com um movimento, clareando a jogada com um passe, sempre sem firula, é um cara discreto fora dele. Extremamente profissional, pois, claro, os motivos que o fizeram solicitar o retorno a Buenos Aires não surgiram ontem. Talvez, se ele fosse um cara mais performático, uma ala dos que o subjugam iria abraçá-lo.
“Só se valoriza depois que perde?” Não gosto de generalizar nada, mas as máximas e ditados têm um motivo de existir, não surgiram do nada. Entretanto, ao contrário de muitos que lamentam sua saída, que têm certeza que ele fará falta, eu torço, e muito, para que não faça. Não para dar argumento à outra turma, mas pelo desejo de ver o Atlético melhor sempre.
Craques, ídolos, cabeças de bagre, controversos, perebas, pernas de pau, gênios… jogadores irão e virão, temos que aprender a lidar com isso. Seis anos atrás, a saída de um jogador que eu tenho muito carinho acabaria com meu final de ano. A maturidade me fez enxergar que eu lembrarei dos grandes momentos daqui 10, 20 anos e outros grandes momentos serão construídos nesse meio tempo. Particularmente, sou extremamente contra atrapalhar o fluxo diário de um aeroporto para receber um jogador que desembarca pela primeira vez na Cidade do Galo. Porém, se eu pudesse, teria ido a Confins mostrar minha gratidão a Nacho. Mas eu tenho este espaço.
Refino técnico, inteligência, antecipação a jogadas, capacidade de leitura e investigação de espaços que vi em poucos que tiveram a honra de vestir o Manto. Um daqueles jogadores que você espera acontecer algo quando a bola encontra seus pés. Eu torci muito pela chegada dele, ainda em 2020, quando começou a se falar sobre. Não que seja culpa sua, mas te venderam um outro jogador. Apesar de canhoto, argentino e jogar na faixa central, Nacho nunca foi o famoso enganche. O que não significa que ele não seja um craque. Silencioso, mas cracaço da bola.
¡Gracias, Nacho!
*Este texto é opinativo e de inteira responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.*