De jogo em jogo mil e uma emoções, mil e um sonhos, mil e um pesadelos. Assim é o Atlético
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Primeiro jogo em casa em 2024, primeira vitória no ano. E foi de goleada. Um 4 x 0 regado com detalhes bastante interessantes. Com a Massa é assim, 8 ou 80. De jogo em jogo o Galo enche o imaginário atleticano de 1001 expectativas.
Neste primeiro jogo do Galo na Arena MRV nesta temporada teve estreia não anunciada de Scarpa, teve Hulk, Zaracho e Mariano pela primeira vez em campo neste ano, teve a confirmação de que está surgindo no Glorioso mais um zagueiro artilheiro, teve pedido de casamento nas arquibancadas, transmitido pela GaloTV, teve gols de Edenílson, do incrível Givanildo e do muito bom de bola Matias.
Teve também um futebol que, se não foi totalmente redondo e brilhante, foi muito mais leve e fluido que nos jogos anteriores. E teve mais: um adversário que não praticou um jogo violento, uma arbitragem que, se não foi perfeita, não quis aparecer e um VAR discreto e competente.
Se nos dois anos anteriores vimos um Galo oscilante, irregular, irritante, ora visceral, intenso e impositivo, ora letárgico, impotente, sem energia, sem inspiração e sem contundência, diante da Pantera vimos Atléticos diferentes durante o jogo de forma muito positiva. Em alguns momentos os jogadores trocaram de posição e função de forma eficiente e muito bem executada.
Particularmente, o que vi de mais interessante e alvissareiro, é que estes Atléticos sinalizam claramente que há um trabalho que começa dar frutos, que há um dedo do treinador em campo e, simultaneamente, de um lado, a assimilação das ideias do comandante pelo grupo e, de outro, o entendimento do Felipão em relação às características dos atletas sob seu comando.
Vi uma saída de três ora com Lemos por dentro e Mariano pela direita, ora com Otávio por dentro, Lemos pela direita e Mariano caindo pela meia direita e Edenílson saindo pela meia esquerda, ora com Mariano por dentro, entre os zagueiros e Lemos pela direita. Em todas estas saídas de três o terceiro homem pela esquerda era sempre Jemerson.
Vi também Mariano ficar pelo lateral esquerda para onde flutuou em um momento específico do jogo, protegendo as costas de Arana, temporariamente convertido em meia esquerda. E vi Edenílson se projetar tanto pela meia direita quanto por dentro, quase pela meia esquerda, quando aliás, marcou um belo gol. Vi ainda Hulk superar a falta de ritmo, dar duas espetaculares assistências, carimbar a trave do Democrata e marcar um golaço.
Sei, porém, que os rendimentos coletivo e individual variam jogo a jogo e podem ser afetados por “n” fatores como, por exemplo, o estado do gramado, a temperatura, a umidade relativa do ar, as chuvas e, claro, a proposta tática do adversário.
E não é só isso: como todos os jogadores sem exceção são seres humanos antes de serem atletas eles passam por momentos bons e ruins como qualquer um de nós, têm problemas familiares e existenciais como qualquer outra pessoa e, claro, tudo isso pode afetar negativamente o seu futebol em campo.
Já vivi e vi futebol o tempo suficiente para saber que não se monta um time de futebol de um dia para o outro, que não existem jogadores iguais e que, portanto, suas adaptações às ideias de jogo do treinador e, consequentemente, suas respostas em campo são diferentes. E este jogo contra a Pantera do Vale do Rio Doce mostrou isso com clareza meridiana.
Durante os 45 minutos iniciais o meio de campo do Atlético foi formado por Otávio, Edenílson, Zaracho e Igor Gomes. Um meio de campo sóbrio, tático e com um insuspeito grau de articulação, se considerarmos a atuação de estreia no campeonato mineiro em Patrocínio dias antes. Em um meio em que ninguém jogou mal, há que se destacar individualmente o argentino Matias Zaracho.
Para o segundo tempo o Galo voltou com Gustavo Scarpa no lugar de Igor Gomes. E, embora a planta tática tenha se mantido inalterada, tudo mudou, vez que a entrega estratégica do estreante foi inevitavelmente diferente daquela feita pelo então titular substituído.
E à medida em que Scarpa foi se sentindo à vontade e se soltando, o meio de campo atleticano e a construção de jogo do Atlético foram se realinhando. Naturalmente cansado, Zaracho cedeu o seu lugar para Pavón. Com isso, Scarpa passou a se movimentar mais por dentro e até flutuou algumas vezes pelo lado direito, o que fez seu futebol crescer, com direito a um lençol espetacular.
Embora os jogadores que entraram durante o jogo tenham características diferentes daqueles que saíram, o time manteve no geral o desenho tático de origem, o equilíbrio e o nível. E isso é muito interessante e promissor.
Mas, atenção. Cada jogo é um jogo diferente, que precisa ser jogado com inteligência e com foco nas suas especificidades. Os jogos do Atlético, então, costumam ser temperados pela emoção, pelo imponderável, pelas arbitragens marcadamente infelizes e, muitas vezes, por uma massa torcedora bipolar, fascinante e ímpar. Uma torcida que quando amarra as chuteiras dos jogadores com as próprias veias torna o Galo imbatível. Duvida? Pergunte ao vento.
Início de ano, início de temporada, início de trabalho. Tempo de mil e um sonhos e, outro tanto de expectativas. Para o atleticano, é também tempo de 1001 emoções e dos inevitáveis pesadelos. Tempo de acreditar, de esperançar, de saber que, de jogo em jogo, o atleticano tem uma missão: jogar junto como nenhuma outra torcida sabe e consegue, dentro e também fora do campo.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal Fala Galo.