Conexão Cidade do Galo – Amsterdã, a parceria entre Atlético e Ajax que nunca aconteceu

Por: Angel Baldo e Hugo Fralodeo
Já não é nenhuma novidade que a base é um dos grandes pontos negativos do Atlético e que constantemente gera reclamações por parte da torcida. Afinal, um dos principais clubes brasileiros não consegue extrair do seu poleiro jogadores de qualidade para a equipe profissional. Nos últimos 15 anos, é possível contar nos dedos de uma mão as revelações que geraram ganhos desportivos (conquistas) e financeiros (vendas).
Se hoje as contestações são grandes, isso talvez não aconteceria se, lá atrás, em julho de 2018, o clube que era comandado por Sérgio Sette Câmara e Lásaro Cândido, tivesse analisado a proposta do Atleticano Tomaz Araújo, que trabalhava no Ajax, clube com uma das quatro categorias de base mais rentáveis do mundo e que historicamente é um celeiro de excelentes jogadores para o mercado europeu.
O FalaGalo bateu um papo rápido com Tomaz, hoje funcionário da Nike, que na época procurou cinco pessoas no Atlético para apresentar o projeto, mas não teve nenhuma resposta. Natural de Belo Horizonte, o jovem elaborou um plano de expansão para o tetracampeão da Champions League, que queria novos parceiros no mercado latino para implantar a ‘Ajax Coaching Academy’.
“O Ajax queria expandir parceiros no mercado latino. Trabalhei para eles analisando 30 clubes. Na época, identifiquei quatro equipes e uma delas era o Galo, mas ninguém quis conversar comigo. Recentemente, fecharam acordo com o Pachuca, do México, e estão desenvolvendo um projeto na MLS”. – conta Tomaz.
DE TOEKOMST (O FUTURO)
Só pelo nome, De Toekomst – ‘O Futuro’ em holandês -, o centro de treinamentos do maior campeão holandês já deixa claro a importância que o Ajax dá à formação de jogadores. E não é simplesmente uma filosofia, muito menos só uma necessidade, no Ajax, tudo gira em torno da proposta de manter o clube como a principal fábrica de craques para a Europa e o mundo.
Em estudo do Observatório de Futebol do Centro Internacional de Estudos de Esporte (CIES Football Observatory), em outubro de 2021, o Ajax Youth Academy tinha desenvolvido 81 jogadores que atuavam nas 31 principais divisões dos países filiados à UEFA, mais do que qualquer outro clube no mundo. Nomes como Frenkie de Jong, Donny van de Beek, Gravenberch e de Ligt, que certamente estarão no Catar em novembro, renderam em campo para o Ajax, renderam também cifras milionárias e estão atuando em outros grandes clubes do mundo.
Exportando seus craques, o Ajax tem a quarta categoria de base mais rentável do mundo, sendo, muito provavelmente, o clube que mais lucra com a venda de seus talentos. Com um orçamento médio de 11 milhões de euros por ano (cerca de R$ 58 milhões), de 2015 a 2022, o Ajax faturou 311,5 milhões de euros com a venda de jogadores formados em De Toekomst. Quando abrimos o leque e consideramos também talentos captados ao redor do mundo, que chegaram para serem lapidado em Amsterdã depois dos 18 anos, as cifras ultrapassam os 500 milhões de euros.
Mas, não é apenas visando o lucro que o Ajax trabalha, o clube tem como um dos principais objetivos o abastecimento de seu próprio time. Com um dos segredos da excelência na formação sendo os processos que os jovens jogadores são submetidos, em média, um ou dois atletas chegam ao time principal a cada temporada.
COMPARAÇÃO COM O ATLÉTICO
A título de comparação, no início ano de 2022, quando o planejamento colocou uma equipe alternativa no estadual, o Atlético chegou a utilizar alguns jogadores formados na Cidade do Galo ou captados em outros clubes com idade para atuar em categorias inferiores. Porém, apenas sete pratas da casa permanecem no elenco principal, incluindo Nathan Silva e Jemerson, que são formados pelo Atlético mas já rodaram em outros clubes e têm carreiras consolidadas.
Além de nomes como os atacantes Luiz Filipe, Echaporã (atualmente emprestados) e Sávio (vendido ao Grupo City), ou do volante Neto e o do também atacante Felipe Felício, que voltaram ao sub-20, os únicos ‘crias’ que permanecem no elenco principal: os goleiros Gabriel Delfim e Matheus Mendes, o zagueiro Hiago e os meias Calebe e Rubens – o único que realmente trouxe impacto ao time – entraram em campo em apenas 15% de todos os minutos que o Atlético jogou na temporada.
Se apenas 17% do atual elenco do Atlético é composto por jogadores formados em casa (excluindo Nathan e Jemerson), sendo que, desses cinco jogadores que integram o elenco, dois nunca atuaram profissionalmente e outros dois não atuam regularmente, em média dos últimos anos, também de acordo com o CIES, 40% do elenco do Ajax é composto por jogadores sub-22 criados ou lapidados em De Toekomst.
*Imagens: Reprodução/Ajax e Acervo Pessoal Tomaz Araújo