O Brasil de chuteiras e o Atlético à procura de um futuro

Por Max Pereira
Com este ensaio completo uma trilogia iniciada com os artigos “COISAS DO ATLÉTICO! O GALO, COMO SEMPRE, NO FIO DA NAVALHA…” e “UM CALDEIRÃO CHAMADO ATLÉTICO”, publicados respectivamente nos dias 25 e 27 próximos passados em minha coluna PRETO NO BRANCO, aqui no Fala Galo.
Em 27 de maio de 2018 e, portanto, às vésperas da Copa da Rússia, o professor Nildo Ouriques, titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina e ex-presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos desta mesma universidade, escreveu o artigo “A PÁTRIA EM CHUTEIRAS, PATRIOTAS OU NACIONALISTAS”, o qual, em razão da temática abordada, permanece incrivelmente atual, vez que o cenário político-social descrito e explorado por ele naquele ensaio, mais do que inalterado, claramente se mostra mais enraizado nesse nosso Brazilzão de meu Deus, como diria lá no sertão das Gerais o velho Fortunato, perdido em seus pensamentos e incomodado com a perspectiva do futuro que espera pelos seus 49 netos e 17 bisnetos.
Nildo Ouriques inicia seu instigador e provocativo artigo nos lembrando de que em época de Copa do Mundo o Brasil se veste de verde e amarelo e que nós passamos a ser quase 200 milhões na corrente prá frente, fenômeno que, de quatro em quatro anos, se repete de há muito, particularmente a partir daqueles tempos nostálgicos para muitos e mágicos para outros tantos, nos quais a genialidade de Pelé e de Garrincha fez o mundo se curvar ante as chuteiras dos craques brasileiros.
Hoje também não é diferente, embora o momento político atual nos remete a determinadas particularidades, vez que não há como separar e nem neutralizar os reflexos das últimas eleições no comportamento do torcedor brasileiro. Ouriques se inspirou no escritor, jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues, para também provocar um debate esportivo com elementos sociológicos, filosóficos e mesmo antropológicos, buscando, de maneira tão instigante quanto a de Nelson, fazer a análise psicanalítica do nosso país e da relação do povo brasileiro com o futebol. Ouriques e Rodrigues pertencem a campos políticos diametralmente opostos, mas são ambos de consumo obrigatório porquanto inteligentes, necessários, intrigantes e provocadores.
Nildo Ouriques nos lembrou de que ao analisar a seleção brasileira de 1970, antes de ela embarcar para o México, onde seria campeã, Nelson Rodrigues, de forma bastante inteligente, criticou duramente os analistas esportivos nacionais que antecipavam o fracasso, afirmando que os brasileiros sofriam de um fantástico “complexo de vira-lata”, um problema crônico de inferioridade diante dos europeus e demais nações ricas e dominantes no planeta. Será que depois de 52 anos pode-se afirmar que este “complexo de vira-lata” já não mais existe e não mais marca as nossas relações com o mundo exterior? Sinceramente, eu ainda vejo marcas claras e cristalinas desse sentimento de inferioridade.
Fala-se muito de patriotismo em época de Copa do Mundo. E nos tempos atuais, em razão das eleições e da radicalização política de alguns, este sentimento tem sido, senão o mais invocado, um dos mais comentados nas redes sociais. Mas, mais do que falar em patriotismo, recorro às lições do Professor Nildo Ouriques para lembrar que, além do gostar da pátria, do lugar onde nascemos, é mais do que importante pensar e cuidar com o que vou fazer com meu país, com o que eu quero e defendo para o meu lugar. E isso tem um nome: nacionalismo.
E é nesse cenário de incertezas e de radicalizações que o Atlético ensaia a mais importante e radical transformação de sua história. Por isso, ao falar de nacionalismo quero invocar outro sentimento, o atleticanismo. Quero falar de atleticanidade. Quero falar do que fazer com o meu Atlético, com o nosso Atlético. Quero falar do que defendo para o meu Atlético, para o nosso Atlético.
Assim, como Ouriques pôs o dedo na ferida ao nos dizer que “o futebol, na América Latina, configura-se como um grande campo de exportação de “pés de obra” principalmente para a Europa” e que, por isso, vendemos a preço de banana brilhantes jogadores que, ao chegarem ao mercado principal, são revendidos por preços extraordinários para outros mercados e que pelo seu brilhantismo, magia e capacidade, continuam alimentando a mídia na venda de outras “mercadorias” exorto a você atleticano/a a pensar sobre que tipo de “mercadoria” você quer que seja a SAF atleticana tratada e considerada ao ser vendida e que tipo de “dono” você quer para a Sociedade Anônima do Futebol do Atlético?
Não à toa, tenho defendido a proteção como cláusula pétrea, tanto no estatuto do clube, como no instrumento de constituição da SAF e também no contrato de sua venda para um investidor, de determinados direitos, patrimônios e da identidade do clube. O Atlético só é gigante porque tem a torcida e a história que tem. E isto nunca poderá estar à venda. Os conselheiros têm que perceber que estão imbuídos da missão mais importante e fundamental da história do clube.
Os conselheiros têm que ter em mente que só devem votar, seja aprovando, seja não aprovando, o que quer que seja, depois de conhecer todas as variáveis envolvidas, todo o espectro da dívida do clube e da Arena, i.e., origem, composição, quem são os credores, juros gerados, o que é de curto prazo, o que é de médio e de longo prazo, todos os balanços do clube nos últimos 10 (dez) anos e da Arena desde o início das obras, quem é o investidor, que modelo de clube o investidor, tem mente para o Atlético, qual é a modelagem da SAF, quanto o “dono” da SAF alvinegra vai investir no Atlético e como e onde vai ser investido este montante e quais são e como as garantias, as salvaguardas e os direitos do clube estarão preservados, como tudo isto estará configurado no novo estatuto do clube.
Enquanto o Brasil está de chuteiras, o Atlético está caminhando rumo a mais radical e importante transformação de sua história. E não pode fazê-la desprezando o seu gigantismo natural e nem simplesmente se curvando ao capital de terceiros. Mais do que nunca o atleticanismo tem que estar à flor da pele do atleticano e, em especial, de cada um dos conselheiros.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.