O Atlético precisa de uma sacolejada geral, mas…

Por Max Pereira
No sábado passado, o Sub 20 do Atlético perdeu o primeiro confronto com o América pelas semifinais do campeonato mineiro da categoria por 1 x 0. O placar é o que menos importa. De atuação irregular em atuação irregular o Galinho chegou até aqui sem convencer e deixando quem acompanha as categorias de base atleticana muito preocupados e profundamente irritados com o futebol insosso e pouco ou nada contundente que, a exemplo do time profissional e das outras equipes das divisões inferiores, o Atlético vem mostrando nesta temporada de 2022.
Dias antes, o sub 17, não obstante ter vencido de virada a excelente equipe do Palmeiras por 3 x 2, resultado estoico e conquistado na raça e no coração, foi eliminado do campeonato brasileiro da categoria pelo saldo de gols, já que havia sido derrotado em São Paulo, também de virada, por 4 x 2, depois de ter aberto uma vantagem absolutamente insuspeita de 2 x 0 na etapa inicial. A irregularidade tem sido a tônica das equipes atleticanas, não importa a categoria e a idade.
Nesta última segunda-feira, o time principal empatou com o Fortaleza por 0 x 0 no Castelão, um resultado que, considerando as circunstâncias do jogo e o momento atual do Atlético, pode ser considerado bom e aceitável. Tenho procurado uma palavra que possa definir a impressão que o time atleticano vem me passando jogo a jogo nesta temporada. Letárgico, inoperante, triste, doente, abatido, anêmico, caído, deprimido, descorçoado, desalentado, são algumas das palavras que naturalmente afloram em meu consciente. E, sobretudo, IMPOTENTE.
O jornalista Chico Maia em seu Blog viu assim o Atlético neste último jogo diante do Leão do Pici: “Os jogadores não ‘desaprenderam’, continuam sabendo jogar, só que não atuam como um grupo. Característica de um elenco rachado, cujo treinador não consegue resolver, porque também não é do agrado de grande parte deles”.
O Blogueiro ainda cita um comentário de Fernando Rabelo: “O Atlético é o melhor SPA de jogador desse ano. Não é possível Cuca continuar. Precisamos desonerar logo esta folha. O contrato desses mímicos deveria ser por produção. O Atlético não vai para a Libertadores se não houver uma sacolejada geral!!!”. E vai além ao reproduzir uma fala de Tim Silva: “Que futebol horroroso. Parece uma má vontade de jogar. Dá a impressão que todos estão a fim de que o campeonato acabe depressa. Os números que o Cuca sempre apresenta nas coletivas não justificam absolutamente nada, pois não há resultado. Alguém no clube deveria ter vergonha. Salário muito alto e futebol de salário mínimo”.
A tese de elenco rachado não é nova. Outros formadores de opinião e um grande número de torcedores já vêm dizendo isso há bastante tempo. Da mesma forma, questões como a Cidade do Galo ter-se inegavelmente se transformado em um confortável e maravilhoso SPA para os jogadores que não se sentem mais comprometidos com o clube e estavam pouco se lixando para os resultados esportivos que a Massa esperava, que o Atlético precisa desonerar a folha, que o futebol apresentado em campo é incompatível com os altos salários dos jogadores e ainda que existem problemas sérios, talvez insanáveis entre o treinador e o grupo, já pululam por aí há meses.
Que o clube precisa dar uma sacolejada geral me parece induvidoso e tão certo quanto dois mais dois é igual a quatro. Mas, que sacolejada deve ser dada? Diagnósticos, a grande maioria imprecisos e lastreados na emoção e no açodamento que sempre levam a conclusões equivocadas e a soluções que, ao contrário de produzir a “cura” esperada, acabam gerando danos ainda maiores e quase sempre irrecuperáveis, temos aos montes. Tenho defendido incansavelmente que o clube faça um diagnostico preciso dos problemas que o estão sacudindo e minando o rendimento de suas equipes dentro de campo.
Particularmente não tenho nenhuma dúvida de que o elenco não se sente mais seguro e feliz como grupo e com o clube, pelo menos no nível em que estes sentimentos já existiram, que o treinador e os jogadores têm arestas de difícil resolução, que o futebol não é a única área afetada e, nem tampouco, a geratriz unilateral dos problemas atleticanos, que o clube como um todo está sentindo os efeitos de uma mudança de discurso de 2021 para 2022, o que mudou radicalmente a condução não só do futebol, como de todas as áreas fim e meio. Aqui, deve ser lembrado que no início desta temporada o clube passou por uma reformulação administrativa e gerencial significativa com vários profissionais saindo e outros tantos chegando.
O endividamento crescente, o vender e vender obsessivo de ativos, sejam os bens patrimoniais imóveis, seja os jogadores, a constituição da SAF, o momento político eleitoral do país, cujos reflexos na política e na vida intestina do clube são visíveis a olho nu e a inabilidade dos gestores atleticanos na resolução de conflitos e de arestas que por ventura vêm surgindo intramuros da Cidade do Galo, compõem, dentre outros, um conjunto de fatores que vem sacudindo o clube de forma perniciosa, o que exige daqueles que o dirigem ações e medidas rigorosas e profundas.
Se o rendimento quase sempre pífio e a irregularidade crônica que vem caracterizando os times atleticanos independentemente de idade ou de categoria, fossem consequência de deficiência de caráter dos jogadores e da “inescondível” baixa qualidade técnica de vários deles, como os caçadores de bruxa sempre destilam aqui e ali, não se via em seus rostos aquele olhar triste, amargurado, o cenho franzido, o sentimento de impotência e de frustração que, de há muito, não conseguem mais esconder.
Causa e efeito. Tudo o que acontece dentro de campo é reflexo do que ocorre fora das quatro linhas. AH! E dinheiro, conforto, salário, riqueza e status não imuniza ninguém da depressão, dos problemas emocionais, psicológicos, mentais e físicos. Se assim fosse, os ricos não teriam problemas e doenças emocionais graves e, nem entre eles, haveria casos de suicídio. Muitos atletas de alta performance, vitoriosos em seus esportes, ricos e bem de vida materialmente, conhecidos e admirados no planeta inteiro, já relataram cansaço mental e profundo desgaste com o entorno de suas carreiras. Muitos deram uma parada e alguns chegaram a desistir em meio a uma ou outra competição.
Aquela “matada” do Ademir que saiu com bola e tudo pela linha lateral de forma ridícula e constrangedora e a reação de Cuca levando as mãos à cabeça completamente aparvalhado com o lance não é revelador de deficiência técnica ou de falta de qualidade do Fumacinha. Escancara, outrossim, a confusão mental e emocional que têm atropelado os jogadores atleticanos, somada à uma profunda baixa da autoestima dos atletas. Ou seja, é efeito, é consequência. E o clube deve investigar as causas, deve ir à raiz dos problemas.
Rigorosamente, todos os jogadores atleticanos, sem exceção, já renderam e jogaram individual e coletivamente muito mais do que vêm rendendo e jogando atualmente. E, se o problema é coletivo, significa que internamente a maionese atleticana desandou e que para cozinhar um novo e saboroso prato é preciso rever ingredientes, instrumental, a cozinha, receita, estratégias e capacidade do cozinheiro e de seus ajudantes. Ou seja, a solução requer diagnostico preciso, planejamento, trabalho e expertise para cuidar de problemas que vão muito além das quatro linhas.
A medicina oriental tem como propedêutica para tratar e curar um paciente, tratar e curar concomitantemente a sua família e cuidar do seu entorno de vida, de sua casa. O Atlético precisa de uma sacolejada geral, mas não de uma sacolejada qualquer. Tanto quanto não precisa de soluções passionais, o clube também nada ganhará se apenas jogar para a sua torcida.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.