Intensidade, polêmicas, rusgas e implosão; Antes do reencontro, relembre a explosiva passagem de Eduardo Coudet pelo Atlético

Por Hugo Fralodeo
A partir das 21h deste sábado (30), a bola rola no Beira-Rio para Atlético e Internacional. Naquele que seria apenas mais um jogo pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro, o destino coloca frente a frente Atlético e Eduardo Coudet, atual treinador do Colorado que teve passagem explosiva pela Cidade do Galo na primeira metade da temporada.
Contratado ainda no final de 2022 para assumir o cargo deixado por Cuca, Chacho desembarcava em Belo Horizonte com o depósito da esperança de maior parte da Massa pela recuperação do elenco que praticou o futebol que dominou o país um ano antes, mas teve brusca queda de rendimento no ano que deveria ser o da consolidação do Alvinegro como, se não a, uma das maiores potências do Brasil e da América do Sul.
Antes do revival, o FalaGalo preparou uma verdadeira coletânea com os momentos mais expressivos do período em que Chacho Coudet treinou o Atlético.
‘Coudetizados’ pela intensidade
Como a Copa do Mundo do Catar foi, excepcionalmente, disputada em dezembro, o calendário do futebol brasileiro terminou em novembro de 2022, antecipando a pré-temporada na Cidade do Galo. Diferente da virada de 2021 para 2022, quando houve certa demora para a contratação de um novo treinador, desa vez a diretoria Alvinegra agiu rápido, voando (literalmente) até Buenos Aires, poucos dias depois do final do Brasileirão, para buscar Chacho, que fora anunciado no dia 19 de novembro.
No dia 14 de dezembro, 25 dias após o anúncio do novo treinador, tinha início a pré-temporada na Cidade do Galo. Em meio a uma profunda reformulação do elenco liderada pelo próprio comandante e seu departamento técnico, a palavra da moda era “intensidade”, o que a Massa comemorava, uma vez que a maioria dos torcedores acreditava ser algo que faltou no ano anterior. Com treinamentos intensos e a promessa de um Galo novamente protagonista, havia quem discordasse de métodos e ideias, mas a maioria dos Atleticanos estavam ‘Coudetizados’.
“Cadê o ponta, Coudet?!”
Acostumado a mandar a campo o esquema 4-1-3-2, que usou na maior parte da carreira, Coudet foi constantemente questionado pela utilização de uma dupla de atacantes e a ausência de pontas, algo que era habitual nos últimos anos no Atlético, que, entre variações, teve o 4-2-3-1 como esquema preferido durante a última década – inclusive gora, com Felipão -, independente de quem estivesse no comando técnico.
Com o início dos jogos, alguns, inclusive, chegaram a cravar que o treinador, apesar de ideias de um jogo propositivo e priorizar sempre o ataque rápido, não era capaz de oferecer variações táticas, sendo um treinador de “uma nota só”.
Questionamentos como a improvisação de Edenílson na lateral-direita, a eventual sub-utilização de algumas outras peças e a alta rotatividade entre os atletas no time titular, contrastavam com a fase impressionante de Hulk e os momentos de bom futebol em campo. Porém, entre percalços e boas atuações, Coudet e seus comandados permaneceram invictos nos primeiros 11 jogos do ano. Até que….
A coletiva, o copo de cerveja e o “cargo na mesa”
Era o dia 7 de abril, e o Atlético – que viria a conquistar o Campeonato Mineiro até com certa facilidade dois dias depois e tinha chegado bem à fase de grupos da Libertadores – perdia no Mineirão para o Libertad no primeiro jogo “dentro” da principal competição sul-americana de clubes.
No entanto, o grande momento da noite foi após o apito final. Em sua entrevista coletiva, Coudet atacou e fez cobranças direcionadas ao órgão colegiado que gere o Clube, além de colocar seu cargo “na mesa” da cúpula Alvinegra. Poupando apenas Rodrigo Caetano, Chacho criticou as mudanças no projeto apresentado na época de sua contratação, reclamou das vendas que o deixaram com um elenco curto e revelou sua chateação com as promessas que lhes foram feitas pelo órgão colegiado que acabaram não sendo cumpridas.
O treinador reclamou de um copo de cerveja que lhe fora atirado da arquibancada, cobrou publicamente a diretoria pelas negociações recentes de Ademir e Sasha e os rumores envolvendo Allan, revelou a recusa da diretoria pela contratação de um centroavante, voltando, inclusive, a citar nominalmente jogadores que foram tentados e não conseguidos pelo Clube, algo que já havia feito semanas antes e que teria pegado mal entre seu elenco, uma vez que o comandante chegou a comparar jogadores tentados com os contratados como “segunda opção”.
Panos quentes, pedido de desculpas e “bola para frente”
Já no dia seguinte, após a tempestade veio a calmaria. Em tom bem mais ameno do que na noite anterior, Coudet usou os microfones da Cidade do Galo para revelar o que foi tratado na reunião com a diretoria.
Mais tranquilo, Coudet revelou seu pedido de desculpas à direção e ao órgão colegiado, se explicou pelas duras palavras que compartilhou na fatídica coletiva, além de garantir que estava feliz no Atlético e pregar união entre diretoria, comissão, jogadores e torcida em busca do título Mineiro, que veio dois dias depois.
Na terça-feira foi a vez do presidente Sérgio Coelho falar sobre o assunto. Em entrevista coletiva concedida na Sede de Lourdes, o mandatário confirmou o acerto com o treinador e justificou a posição, além de revelar a série de acontecimentos da última da dura entrevista coletiva de Chacho pós-derrota para o Libertad até a reunião que aconteceu na manhã que precedeu a coletiva do presidente, explicando, inclusive, a tal questão da clausula de saída do treinador.
Está tudo bem (mas só até tudo não estar tão bem assim)
A temporada seguiu, o Atlético evoluiu em campo com a consolidação do trio Pavón, Paulinho e Hulk, brigava na parte de cima da tabela do Campeonato Brasileiro, se recuperava na Libertadores e abriu boa vantagem frente ao Corinthians nas oitavas de final da Copa do Brasil. Mas chegou o último dia do mês de maio….
Após o 2 a 0 a favor na primeira partida no Mineirão, Coudet levou o Galo podendo até perder pela diferença mínima na Neo Química Arena que estaria nas quartas. Porém, pensando no clássico do final de semana, Chacho preservou alguns jogadores, incluindo Hulk, o Atlético fez seu pior jogo na temporada até então, o Corinthians devolveu o 2 a 0 e levou a vaga nos pênaltis. A tempestade voltava à Cidade do Galo, dessa vez para ficar.
Acusado de menosprezar os paulistas, que viviam fase terrível, quando chegava à Cidade do Galo para o último treinamento antes do clássico do final de semana, Coudet foi duramente cobrado por integrantes da Galoucura, maior torcida organizada do Clube, que questionaram o treinador pela eliminação na Copa do Brasil e pediram que, caso o argentino não vencesse o Cruzeiro em Uberlândia, ele entregasse o cargo.
Chacho até tentou argumentar com os presentes, mas foi interrompido e impedido de falar pelos torcedores. Alguns chegaram a proferir xingamentos e disseram que o treinador não era mais bem-vindo na Cidade do Galo, pedindo para que ele assinasse a ativação do contrato que retirava a multa em caso de rescisão e saída do Clube. O clássico foi vencido pelo Galo, mas a situação já parecia insustentável.
A despedida
O que parecia insustentável, tornou-se irreversível e impossível. Na semana e partida seguinte, o empate por 1 a 1 com o RB Bragantino, no Mineirão. Coudet foi monossilábico em sua coletiva pós-jogo, voltou ao vestiário e se despediu do elenco, dando a entender que não voltaria à Cidade do Galo após sua viagem à Argentina, programada em virtude da folga concedida pela paralisação do Brasileirão, devido a disputa de uma data FIFA.
Tudo que parecia contornado aos olhos de alguns, voava no ventilador, pegando a maioria de surpresa. A madrugada foi tensa e, no dia seguinte, 11 de junho, o Atlético informou, através de nota oficial, que, por ter informado sua decisão de deixar o Clube no vestiário do Gigante da Pampulha, ele de fato não era mais o treinador do Galo.
Depois de algumas voltas e reviravoltas, o ar de indefinição, discussão sobre se o treinador havia sido demitido ou pedido demissão, Chacho ter dito que voltaria sim à Cidade do Galo, a cúpula Alvinegra e o treinador se reuniram para tratar amigavelmente da rescisão contratual, que aconteceu sem o pagamento de multa para nenhuma das partes.
Alfinetada em Caetano
A conturbada saída de Coudet da Cidade do Galo não foi o último capítulo da história. 40 dias depois, ao ser apresentado no Internacional, o argentino falou pela primeira vez sobre seu distrato com o Alvinegro, negou ter criticado o elenco que tinha à disposição e alfinetou Rodrigo Caetano, a quem disse ter tido a má sorte de encontrar no Galo e na sua primeira passagem pelo Colorado: “Passei por dois clubes que não pude completar o contrato, mas sigo falando com gente de lá e estou aqui novamente. Talvez tenha tido a má sorte de cruzar com a mesma pessoa nos dois clubes”, o que foi rebatido pelo executivo do Atlético dias depois:
“Encaro, até certo ponto, como ingratidão. Mas, no meio do futebol, não podemos esperar o que a gente deseja. Ele não teve azar de cruzar comigo. Eu que fui buscá-lo duas vezes. O fato é esse. Me surpreendeu. No Internacional, foram mais pessoas buscá-lo. Mas, no Galo, fui eu que levei para aprovação, todos entenderam que seria um bom nome. Foi no Galo que ele ganhou o primeiro título no Brasil, com grande elenco”.
Eduardo Coudet deixou o Atlético na 3ª posição da tabela de classificação do Brasileirão, a um empate das oitavas de final da Copa Libertadores e com o título Mineiro que decretou o Tetra Estadual do Galo. Em 35 jogos sob o seu comando, o Atlético teve 21 vitórias, oito empates e seis derrotas, 53 gols marcados e 27 sofridos, com um aproveitamento de 67,6%.
Agora, Atlético e Coudet, à frente do Inter, se cruzam em momentos distintos. O Alvinegro chega em viés de recuperação, após ter passado 10 jogos sem vencer com Felipão, sucessor de Chacho. Com 37 pontos na tabela de classificação do Brasileirão, o Alvinegro enfim se recolocou na briga por uma vaga na próxima edição da Copa Libertadores, único objetivo ainda palpável na temporada. Enquanto os comandados de Chacho se concentram na disputa da semifinal da Libertadores atual, contra o Fluminense, estando a uma vitória da finalíssima, que será disputada no Maracanã, podendo enfrentar Boca Juniors ou Palmeiras, os outros dois semifinalistas.