Felipão, ficar ou não ficar. Eis a questão!

Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Há muito tempo venho dizendo que o time do Atlético estava “doente”. Falo isso desde os tempos do Turco. Ou seja, desde o início de 2022.
Ainda que tenha conquistado o campeonato mineiro e a Supercopa no início da temporada passada, e mesmo reconhecendo que o trabalho de Antônio Mohamed era e foi muito superior ao de Cuca, quando este o sucedeu no comando do time atleticano, e ao atual de Felipão, já dava para perceber que algo de estranho estava acontecendo.
Abro um parêntesis para dizer que o trabalho de Coudet, ainda que promissor, foi terrivelmente afetado pelas forças estranhas que estão levando o time o atleticano a ter uma sequência bizarra e terrível de atuações pífias, alternando momentos de extrema letargia com outros de absoluta falta de jogo coletivo.
O Atlético é o Rei dos Paradoxos. O trabalho de Felipão e os números da campanha do returno mostram isso, o que levou o Beto Caldeira do Renova Galo a dizer com todas as letras: “os números do Felipão são bons”.
E, mesmo reconhecendo que “todo bom projeto só prospera com continuidade”, o Beto pergunta: “Continuar isso aí? Futebol pobre! Contra nossa tradição!” Contundente, conclui: “Se não trocar agora, meio do ano que vem será trocado. E vamos jogar no lixo mais uma temporada”. Contraditório? Paradoxal? Coisas do Atlético ou de atleticano?
Por sua vez, o grande Roberto Gallo, sempre polêmico e ferino, afirma que “a indisposição com a diretoria está alimentando exageros muito grandes. O trabalho do Felipão no segundo turno é bom”, admite ele, provocando a ira de muitos que o leem e acompanham.
E emenda: “Eu vejo gente falando que o Galo joga o pior futebol do país. Não faz sentido. Não tem como pontuar mais que os outros 19 clubes jogando pior que todos eles. Futebol não é desfile de escola de samba, é um jogo pra fazer mais gols que o adversário. Você não ganha por nota por performance, pontua quem faz mais gols e leva menos em uma partida”.
“Time do Galo novamente ridículo. Não consegue sair jogando, não tem verticalidade e muito mal posicionado em campo. O Goiás no mínimo equilibrou o jogo. Igor Gomes e Zaracho encaixotados. Rubens muito preocupado em jogar na lateral e Arana funcionando como terceiro zagueiro. Alan Franco fez falta”, desabafou o atleticano raiz Gilberto Almeida.
Veemente, o velho e duro galista ainda sentencia: “Jogo digno de um campeonato de segunda ou terceira divisão. Felipão mais uma vez nota zero. Se o Goiás fosse um time ruim teria vencido, mas é um time péssimo”.
Três grandes atleticanos tão diferentes entre si e, ao mesmo tempo, absolutamente igualados pela paixão que os consome e emoldura, três opiniões fortes e perfeitamente cabíveis no momento atual do Atlético, ainda que, possam conter pontos conflitantes entre si.
Se de fato o Atlético não joga o pior futebol do país, também é verdade que não pratica o melhor e que, o que se vê em campo, está longe de encantar e de encher os olhos até do menos exigente de seus torcedores.
No Atlético de Felipão não se vê futebol coletivo. Não existe construção e nem articulação. Transição quase nula. Os gols, quando surgem, são resultantes de jogadas fortuitas e isoladamente encaixadas, quase sempre entre Hulk e Paulinho.
A bem da justiça e da verdade, é forçoso reconhecer que uma bola bem enfiada em um dado momento, um lançamento ou uma bola espetada bem aproveitada aqui ou ali, têm resultado em alguns gols e tirado o Atlético do sufoco.
Se dizem que o Galo é o clube dos contrastes, esquizofrênico por natureza, o time atleticano tem a bipolaridade como marca indelével. À exceção macabra e de triste memória do primeiro confronto com o rival azul na Arena alvinegra, não tem faltado luta. Tem faltado jogo construído. Isso explica o fato de o Atlético ter o pior ataque e o pior aproveitamento entre os clubes do G6, atuais postulantes ao título do Brasileirão 2023.
Dizer que não tem faltado luta não significa afirmar que os momentos ruins e de absoluta letargia coletiva e, em alguns casos, de apatia individual, não aconteçam. Estes momentos que dão calos na vista de quem assiste os jogos do Glorioso não se devem a uma falta de vontade de vencer, a uma deficiência de caráter grupal ou deste ou daquele jogador. Querer nem sempre é poder.
Particularmente, atribuo este futebol pouco ou nada convincente da equipe alvinegra, a um fenômeno que tem raízes fora das quatro linhas e que chamei acima de forças estranhas. Por isso, ainda que as ideias de jogo de Felipão não me agradem e ele esteja longe de ser o treinador dos meus sonhos, embora reconheça a sua história vencedora, defendo a ideia de que o clube deve arrumar a sua cozinha antes de definir o comandante do time atleticano para 2024.
E, antes de mais nada, o comando galista precisa se safar de algumas armadilhas. Os números da campanha alvinegra no returno não podem e nem devem balizar isoladamente qualquer diagnóstico e qualquer medida em relação ao futuro do futebol atleticano.
Por obra e graça do imponderável que torna o esporte bretão fascinante, fatores internos e externos têm se conjugado a favor do Atlético. Os outros times também são irregulares, têm as suas limitações e os seus problemas. Além disso, o nível de exigência mental, física e tática do futebol moderno, somado a um calendário perverso, joga contra todos os clubes indistintamente. Quem estiver mais bem preparado e for mais regular vai ganhar o campeonato.
Diagnóstico é a palavra chave. Ao contrário do que disse Felipão em sua coletiva o time do Galo claramente demonstra estar muito machucado, “doente”. O semblante dos jogadores quando focalizados em close durante os jogos mostra sem disfarce que algo os vem incomodando partida após partida. A falta de alegria é patente. Definitivamente há algo de muito estranho no reino atleticano.
A lentidão, comum a todos os zagueiros do Atlético em razão de seu biotipo e a falta de ritmo e de tempo da bola daqueles atletas que retornam de suas contusões, não apenas derrubaram Igor Rabello no último jogo, como Rever a algumas semanas atrás, como também são recorrentemente agravadas pela insegurança decorrente das pressões da torcida e pelas cabeças claramente ruins, bastante dançadas.
As declarações de Hulk após alguns jogos, os cartões decorrentes de situações que mostram à larga um preocupante descontrole emocional, o número exagerado de escolhas equivocadas e de passes errados em vários momentos dos jogos e o desalento, o marasmo, o torpor que parecem engolir o time alvinegro durante boa parte das partidas, são mais que sintomas, são evidências claras de que algo não vai bem intramuros do clube e clama por soluções eficientes e pontuais.
Por uma questão meramente de cunho pessoal eu não gostaria de ver Felipão à frente do elenco atleticano em 2024. Porém, de uma coisa tenho certeza: do jeito que as coisas estão e, se nada for feito para mudá-las, ruim sem ele, pior com ele. Eis a questão!
TEXTO OPINATIVO, DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO AUTOR.