Que notícia é essa?
Por Max Pereira @Pretono46871088@ / MaxGuaramax2012
Em meio a esse interminável emaranhado de informações e “informações” que mais uma vez tingem o noticiário do Atlético, muitos torcedores alvinegros continuam se perguntando sobre o que teria levado o time atleticano a ter uma queda tão brutal de rendimento e se o Galo ainda teria forças e condições para, pelo menos, garantir uma vaga direta na próxima Copa Libertadores da América.
Enquanto o torcedor comum continua buscando as respostas para estas questões, vários veículos das mídias convencionais e alternativa não economizam na construção de teorias sobre o que estaria acontecendo intramuros do clube, algumas verossímeis, outras nem tanto. E elenco rachado é uma das hipóteses sacadas em vários perfis que, a meu ver, não está tendo o tratamento sério e correto que esse assunto requer. Achismo não é elemento probante e, nem tampouco, critério confiável para lastrear qualquer análise.
Polêmica, a tese de que o elenco estaria rachado em razão da disparidade de salários vem encontrando formadores de opinião que a confirmam e outros tantos que a rechaçam até com certa veemência. O clube até o momento nem admite e nem desmente categoricamente esta possibilidade. Confesso não ter elementos concretos tanto para afirmar que o elenco está mesmo perigosamente rachado por esta ou outra razão, quanto para desmentir tal informação.
Mas, não é preciso ser paranormal, médium, adivinho ou coisa que o valha para saber e poder afirmar que no futebol, tanto quanto em qualquer outra atividade da vida e, particularmente no Atlético, como em qualquer outra organização, os conflitos e os desentendimentos sempre terão lugar, porquanto são inevitáveis. Estão na ordem natural das coisas. Seria anormal e preocupante se eles não acontecessem.
Os conflitos que podem ser, por exemplo, resultantes da diversidade de ideias, se não administrados corretamente podem gerar danos por vezes insuperáveis. E um elenco rachado deriva quase sempre de conflitos mal geridos e, portanto, não resolvidos. A questão que interessa de fato, então, seria perquirir se os gestores do clube estão cuidando dos conflitos que por ventura estejam pipocando e, se positivo, como estariam fazendo isso.
Nos últimos anos tem sido consenso no seio da massa atleticana e da própria imprensa que um dos handicaps do Atlético tem sido o bom ambiente entre os jogadores que nunca se fartaram de exibir nas redes sociais que gostam de estar juntos, de jogar juntos e, claro, que gostam uns dos outros. Mas, é claro que um ou outro desentendimento entre eles pode acontecer e também não seria surpresa alguma se agentes externos ao grupo, de dentro e de fora do clube, possam, intencionalmente ou não, terem potencializado ou estar alimentando alguma cizânia.
A simples troca de treinador que por si só já modifica os paradigmas internos e impõe nova sistemática de trabalho, se não for bem conduzida, pode ser o estopim para uma crise sem tamanho. Tem jogador que se sente mais confortável e rende mais com o treinador A e outro que se dá melhor e entrega mais com o treinador B. Existem treinadores que possuem grandes recursos táticos, sabem montar times, mas são péssimos de vestiário. E existem treinadores que são exatamente o oposto.
Sempre defendi a tese de que o futebol de hoje exige de qualquer clube que almeja títulos e sonha ser protagonista no esporte, estrutura e gestão multifacetadas e profissionais e cada vez mais complexas. Enquanto a maioria absoluta dos clubes brasileiros pena e muitos vão encerrando suas atividades e desaparecendo do cenário esportivo nacional em razão de uma recorrente e cada vez mais sufocante crise econômica, os chamados grandes do futebol brasileiro vivem em uma bolha, curiosamente não menos turbulenta e preocupante.
Os clubes grandes, médios, pequenos, de camisa mais pesada ou não e, independentemente de estarem ou não na divisão de elite do futebol brasileiro, têm em comum o fato de, quase sem exceção, serem pessimamente geridos e, assim, serem vulneráveis às crises econômicas que recorrentemente assolam o país. E, como consequência natural da economia de mercado, as crises internacionais também sacodem os clubes brasileiros, tanto quanto afetam o mundo corporativo e empresarial.
Enquanto a maioria absoluta dos atletas profissionais de futebol são mal remunerados, ficam tempos desempregados e compõem aquele contingente cada vez maior de nômades que vivem trocando de clubes e de camisas, elencos como os Atlético são formados em boa parte por aquelas exceções de vitoriosos que chegaram ao estrelato, ficaram ricos e trazem em torno de si uma entourage que também acaba pesando nas suas relações com o clube.
Se os clubes, independentemente do seu tamanho e potencial econômico-financeiro, têm coisas em comum, os jogadores de futebol, independentemente de suas carreiras, sucesso, fama, dinheiro, salários e status, também têm algo em comum: a alma de boleiro. E se o futebol tornou- se um negócio bilionário e, portanto, um produto especial, complexo e sistêmico, os clubes forçosamente se viram obrigados a cuidar de seus bastidores, i.e., do fora de campo, tanto quanto do dentro das quatro linhas. Assim, essa grade diversa e complexa de agentes internos e externos que inevitavelmente interferem no que acontece dentro de campo, requer do dirigente de clube uma expertise que nenhuma outra organização exige.
Assim, antes que fiquemos no insosso e improdutivo terreno da especulação de que noticia é essa sobre um possível racha no elenco atleticano, será muito mais útil para o clube que contribuamos para que ele qualifique cada vez mais a gestão do futebol, exortando para que os próceres atleticanos se sensibilizem mais e mais sobre a necessidade e a importância de dar ao futebol atleticano a supervisão de um corpo multifuncional que conheça os labirintos do esporte e da alma do boleiro.
Por isso, sempre defendi que as soluções mais simples como fazer limpa no elenco, dispensar açodadamente este ou aquele jogador, ao contrário de buscar gerir desde o nascedouro qualquer conflito ou desentendimento que por ventura tenha se instalado, trazem sempre malefícios muitas vezes insanáveis para o clube. Não raras vezes o Atlético pagou um preço altíssimo seja financeiro, seja moral, seja técnico, porque optou por adotar uma solução mais simples que, além de ir ao encontro dos anseios de uma parcela de sua torcida que pensou com o fígado e não com a cabeça, serviu a quem prefere se acomodar e fugir dos problemas.
Quantas vezes o Atlético reformulou grosseiramente seus elencos de uma temporada para outra e os problemas remanescentes, os títulos não vieram, as crises se acirraram e a massa se frustrou? Espero que uma boa gestão de vestiário e, em consequência, dos conflitos que naturalmente irão surgir, seja aquela notícia que fará o torcedor comemorar gritando: QUE NOTÍCIA BOA É ESSA?
*AS INFORMAÇÕES DO TEXTO, NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DO PORTAL FALA GALO!