Gabriel Massote, Atleticano, conta como a classificação do Galo sobre o Newell’s, em 2013, salvou sua vida
Por: Hugo Fralodeo
Para muitos, aquele dia 10 de julho de 2013 foi só mais uma das quartas-feiras que viveu. Para o Atleticano e a Atleticana, foi um dia mágico, um dos momentos que você, independente de como anda a memória, se lembra exatamente como, com quem, fazendo o quê e onde estava. Naquela noite de inverno, para quem estava no Independência, a catarse, a sensação de ‘Eu acredito’ enquanto seus olhos insistiam em dizer que não acreditavam no que acabaram de testemunhar. Para o Atleticano Gabriel Massote, como o próprio contou em bate-papo no Podcast 3 Irmãos (veja aqui), além de ter compartilhado todos esses sentimentos, foi o momento em que soube que superaria, mais uma vez, a leucemia.
Na conversa, o especialista em direito da medicina contou a história de como ele acreditou na classificação, mas, principalmente, como aquela partida entre Atlético e Newell’s Old Boys foi uma dupla vitória:
“A doença voltou em 2013, era uma terça feira de julho. E eu sou muito Atleticano, sou Galo Doido! E na quarta seria a semifinal da Libertadores. Eu tinha um ingresso e descobri que a doença tinha voltado, não tinha contado pra família ainda, foi foda. Eu falei, ‘ah, quer saber… vou nesse jogo! Pode ser a última vez que eu vou num estádio de futebol.’ Foi eu e um amigo meu e nem pra ele eu tinha contado, fui na cara dura. E a gente fica tão pilhado, nosso cérebro é capaz de fazer tanta coisa, que o Galo tinha perdido de 2 a 0 na Argentina, pro Newell’s Old Boys e a gente tinha que meter três gols nos caras pra passar, aí tomei umas ‘canjibrinas’ antes de entrar no Independência e na minha cabeça eu coloquei: ‘é, se o Galo passar hoje é porque eu vou viver, se o Galo não passar eu vou morrer’, e aquele clima do jogo e eu já tinha tomado umas, então, a bola bate na trave e eu sentia até (dor) no rim. Eu tive a oportunidade de contar essa história pro Kalil aqui em Uberlândia, falei pra ele: ‘Ninguém, nem o senhor viveu o que eu vivi naquele dia’. E (o Atlético) fez um gol no primeiro tempo, e aquele jogo amarrado, eu comecei a rezar: ‘Pelo amor de Deus, o Galo precisa fazer mais um gol, porque se não eu vou morrer’. E eu, naquele negócio ruim, ‘dá um sinal’ e ‘bum’, acabou a energia do Independência. Eu juro por Deus, eu tava rezando pra Deus mandar um sinal que o Galo iria fazer alguma coisa, acabou a energia do Independência e ficou tudo escuro. Eu conto e até hoje eu arrepio de tanto que aquilo foi forte pra mim. Sei lá, foi uma baita de uma coincidência do destino, mas pra mim, naquele momento ali, Deus atendeu o meu pedido. E ali eu falei assim: ‘O Galo vai passar!’ E era 30 do segundo tempo. Voltou, colocou o Guilherme, o Guilherme deu uma patada de fora da área e foi pros pênaltis. Cara, naquela decisão de pênaltis, eu fui talvez o cara mais escroto da história. A minha vida tava em cada batida ali. O Rycharlison bateu a bola, chutou ela lá na Galoucura, eu fui homofóbico, eu fui terrível, chamei ele de ‘viado’…. Assim, eu tenho até vergonha desse dia, porque eu falei: ‘eu vou morrer por sua causa!’, de tanto que eu tava envolvido naquele negócio. E no final, quando o Victor pegou o pênalti do Maxi Rodríguez, na última batida, cara… Não é só futebol, porque eu falei assim: ‘não vou morrer! Agora eu quero ver!’ Eu sai dali possuído, com uma confiança de que daria tudo certo de novo, ali foi o meu caminho pra chegar na confiança que eu tive na primeira fase. Então, eu assisti aquele jogo e falei ‘acabou’.”.
* A todos os guerreiros sobreviventes e também aos que ainda lutam essa batalha: NÃO TENHA MEDO!