Gerente-geral da base do Galo aposta em mentalidade vencedora e captação intensiva

Foto: Daniela Veiga/Atlético
Por: Thiago Florêncio
O Atlético iniciou uma profunda reformulação em suas categorias de base. Em entrevista à Rádio Itatiaia, nesta sexta-feira (4), o gerente-geral Luiz Carlos Azevedo detalhou mudanças estruturais, culturais e operacionais que buscam fortalecer o processo de formação de atletas no clube, questionado pela falta de resultados expressivos e poucos atletas revelados.
Azevedo disse que desde a sua chegada mantém diálogo direto com os principais responsáveis pelo futebol do clube, como o CSO Paulo Bracks, o CEO Bruno Muzzi e o Diretor de Futebol Victor Bagy.
“Eu estou há três meses no clube. Então já estamos implementando uma série de ações em conjunto com a diretoria. Tivemos reuniões semana passada. Algumas dessas ações estruturais já estão sendo feitas e até divulgadas”, disse.
Formação focada em mentalidade vencedora e desenvolvimento técnico
O gerente-geral destacou que a formação técnica, já não é suficiente para preparar jogadores que cheguem prontos ao time principal. Segundo ele, é essencial desenvolver nos jovens uma postura competitiva desde cedo.
Luiz explicou que, ao longo de sua trajetória em clubes como Vasco e Flamengo, observou que os grandes atletas tinham em comum uma característica fundamental: mentalidade forte.
“Então a gente acredita que ter essa questão da mentalidade vencedora, de saber que a gente não vai abrir mão de jeito nenhum da formação, mas que a gente vai formar, de uma forma mais completa, um atleta vencedor”, destacou.
Além disso, Luiz ressaltou que o trabalho de base exige paciência e visão de longo prazo. Além disso, afirmou que os maiores talentos que viu despontar no futebol começaram cedo, como: Philippe Coutinho, Vinícius Júnior e João Gomes, todos integrados à base entre 9 e 11 anos.
Por isso, o Atlético decidiu reforçar a iniciação com foco no desenvolvimento técnico, dando destaque ao futsal, prática que antes não fazia parte da rotina. Agora, os meninos do sub-8 ao sub-11 treinam duas vezes por semana e disputam jogos contra categorias superiores, buscando desenvolver a capacidade de decisão desde os primeiros passos.
“Não estou preocupado com o resultado. Eu quero que eles pisem na bola, tenham um contra um, tomada de decisão, é zero tática”, afirmou. O projeto é conduzido com o apoio de Lima, ex-zagueiro do clube, hoje responsável pela coordenação da iniciação.
Reestruturação da captação de talentos
A captação de talentos no Galo vem ganhando novo fôlego com a chegada de Azevedo. A estrutura do setor foi ampliada, com a contratação de profissionais experientes, como André Veloso, ex-Flamengo, que hoje coordena a equipe de scouting.
Novos profissionais foram designados para atuar no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, totalizando cinco, entre eles o ex-jogador Hernani. Para o gerente-geral, o processo de formação começa com escolhas corretas.
“Então eu posso ter o Guardiola na minha base, que se eu não der matéria-prima, ele não vai conseguir desenvolver”, afirmou.
Azevedo destacou a importância do trabalho em três etapas fundamentais: captação, desenvolvimento e transição ao profissional, esta última, em constante alinhamento com o time principal.
Como parte dessa estratégia, o clube lançou o projeto Campo dos Sonhos, voltado para comunidades da Grande BH. Até o momento, 24 regiões foram mapeadas. A ideia é que de duas a três vezes por ano, o clube receba as comunidades na Cidade do Galo.
“A gente precisa estar dentro da periferia aqui de Belo Horizonte. Eu vejo um número pequeno de atletas nascidos em Belo Horizonte protagonistas dentro do Galo. Isso é um número muito pequeno. Então, a gente já startou esse processo. São 24 comunidades, são mais de 4 mil crianças que estão sendo atendidas até agora, mais de 10 já foram visitadas e dentro da comunidade mesmo, o Hernani é o embaixador, já temos três atletas aprovados que saíram dessas comunidades”, destacou.
Transição e blindagem dos talentos
Em outro ponto importante da entrevista, o gerente-geral afirmou que o clube tem apostado na proximidade com jogadores, familiares e representantes dos atletas, como forma de proteger jovens talentos durante a transição da base para o profissional.
Dois exemplos citados foram Alisson, conhecido como Mosquito, que já assinou contrato profissional por 3 anos, e da principal joia da base do clube, Gabriel Veneno, que completará 16 anos neste mês. A diretoria vê na base uma das chaves para reorganizar o clube financeiramente e planeja a integração com o elenco principal de forma progressiva.
“A gente precisa lapidar e preparar cada vez melhor. E no final, depois de fazer essa transição, o atleta dá retorno financeiro e técnico”, disse o dirigente, destacando a importância de um ciclo sustentável baseado em plano de carreira.
Quem é Luiz Carlos Azevedo?
Luiz Carlos Azevedo, tem 41 anos, e é pós-graduado em Gestão e Marketing Esportivo. Estava no Flamengo, onde trabalhou entre 2015 e 2024, e foi peça-chave na engrenagem das categorias de base do clube.
Começou como head scout da base, depois atuou como gerente-geral, e também como gestor do futebol profissional.
Azevedo fez a transição entre base e time principal funcionar como poucos. Esse sempre foi um gargalo no Atlético, que agora aposta na experiência do dirigente para acertar trilhar novos caminhos.
Com ele no comando, o Flamengo levantou 44 troféus nas categorias de base entre 2022 e 2023. Foi responsável por revelar jogadores como: Lorran, Natan, Matheus França, Rodrigo Muniz e Wesley.
Ele também esteve à frente nas vendas de jogadores como: Vinicius Júnior, Lucas Paqueta, Léo Duarte, além de outros formados nas categorias de base, entre os anos de 2019 e 2024, que renderam mais de R$ 1 bilhão aos cofres do clube carioca.