Crônicas em off – A distância do tempo
Por: Hugo Fralodeo –
No FalaGalo, cada passo sempre é dado com muita responsabilidade e, mesmo que de forma individual, às vezes, tudo é feito com pelo menos alguns minutos de pensamento dedicadas a qualquer post, texto, informação… enfim, é melhor entregar a informação da forma mais correta possível, do que entregar meia informação ou meio texto antes.
Quando surgiu a ideia de fazer uma nota sobre a saída de Sampaoli do Marseille, já prevíamos que isso teria bastante repercussão, geraria muito engajamento e a primeira coisa que pensamos foi “compensa?”. Nunca teremos 100% de certeza em nada, mas a experiência nos fez “prever” que nos comentários da postagem no Twitter, teríamos uma pequena amostragem da bipolar passagem de Sampaoli pelo Galo.
Tínhamos certeza que para cada “volta”, “abre o olho, diretoria” e “meu sonho”, haveria também o outro lado: “sai fora”, “fecha o olho, Caetano”, “Deus me livre”…. Simplesmente o que foi a passagem do careca pela Cidade do Galo, dividida.
Eu, Hugão, Hugo Fralodeo, particularmente, sempre fui fã de Sampaoli, sempre acompanhei seu trabalho, sempre o imaginei treinando o Atlético, gostava de seu estilo de jogo, compreendi seus erros, fui taxado de ‘passa pano’ na época, pois sempre tentava explicar, dentro do meu entendimento, esses erros, mas nunca os quis esconder. Sampaoli é um treinador que traz muito conhecimento, muita capacidade de construção de times e é sim um treinador inventivo, capaz de “inventar” times, sistemas e encontrar soluções para início e meio de jogos. Fiquei decepcionado com sua saída no começo da temporada passada, mas também entendi os motivos dessa saída, tanto pela visão da diretoria, quanto do próprio.
Estão vendo? Mais um indício dessa tal bipolaridade.
Me surpreendeu até o número de pessoas que gostariam de ver Sampaoli de volta ao banco do Atlético, mas não me surpreendeu tanto o número que não quer vê-lo nem pintado de ouro. O que foi surpreendente foi que essa turma do #foraSampaoli não fez críticas tão duras. Surpreendeu até mais o debate não ter chegado a um ponto mais acalorado. Pensei, pensei e pensei de novo, até que enxerguei mais um sinal da bipolaridade, porquê tudo não passa de ‘cenas da vida real’. É simplesmente a distância do tempo.
Quando o tempo passa e já estamos longe da emoção e do calor da época, temos ideias um pouco mais claras pra tentar ter um maior discernimento de certas coisas. Como na vida, no momento que você está vivendo aquele bom ou mau momento, se você estiver ‘vivendo certo’ – sem querer dizer o que é se viver – como num time de Sampaoli, tudo vai ser muito intenso e você, querendo ou não, por mais racional que seja, estará no ápice da emoção, com todos os hormônios fervilhando dentro de você, com os sentimentos amplificados. Se uma coisa é boa, você vai se sentir muito bem, se uma coisa é ruim, você vai se sentir muito mal. Essa foi a passagem de Sampaoli pela área técnica do Mineirão. No meio daquela emoção, ali, no olho do furacão, tudo que ele fazia de certo, o transformava num gênio, como qualquer erro lhe transformava em burro. Quem gostava dele o defendia com unhas e dentes, quem não gostava, não esperava o jogo acabar para começar a criticar. Mas essa distância do tempo, pelo menos a algumas pessoas, dá mais clareza as ideias, podendo analisar, de longe de toda a emoção, o que de fato lhe emocionava na época em questão.
Sampaoli fez um bom trabalho no Atlético, inegável e indiscutível. Ajudou sim a construir parte do elenco e do time que foi campeão após sua saída. Não se pode dizer que o Atlético só conquistou por conta de sua saída, como também não é verdade que só venceu por causa de sua contribuição. Quem aponta seus erros também tem dose de certeza. Cometeu erros graves que podem sim ter custado um título, mas essa distância do tempo me fez enxergar tudo isso melhor.
Como em tudo na vida, a distância do tempo nos faz enxergar as coisas boas como muito boas, nos traz saudades, mas também lembrar e ponderar as coisas ruins e, sobretudo, tentamos ‘balancear’ e saber se essas coisas boas se sobressaem. Não é saudosismo querer a volta do que já foi bom um dia, nem utópico que isso volte sem falhas e sem o ônus. É simplesmente humano querer ser feliz de novo, assim como ter pavor de sofrer mais uma vez.
ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.