ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.
Por: Max Pereira
Com este ensaio fecho a trilogia iniciada com os artigos “AS REDES SOCIAIS, A IMPRENSA E O SAMBA DO ATLETICANO DOIDO”, e “NÃO É MALUCO, É ATLÉTICO MINEIRO”, publicados, respectivamente, em 14 de janeiro de 2020 e em 12 de janeiro desse ano nesta coluna.
Nestes dois primeiros textos escrevi sobre as notícias plantadas aqui e ali, algumas surreais e outras claramente maldosas e com endereço certo, que normalmente dominam o “noticiário” esportivo naquela época de qualquer ano (janeiro) e que acabam por povoar o imaginário de qualquer aficionado pelo futebol que, entre sobressaltos e pesadelos, já não sabe mais no que acreditar e em quem confiar.
Em relação às notícias e às coisas do Atlético, então, a situação costuma chegar a tal ponto que muitas bizarrices são incrivelmente normalizadas por muitos atleticanos, não obstante os claros requintes, ora de perversidade, ora de extremado ridículo, com que diversos “formadores” de opinião, seja na mídia tradicional, seja nos mais diversos perfis nas redes sociais, compõem o que, no artigo publicado em 2020, inspirado na genial e deliciosa paródia composta pelo saudoso escritor e jornalista Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, chamei de Samba do Atleticano Doido.
Falei também sobre a triste espetacularização da busca de um treinador e dos movimentos do Atlético no mercado da bola, caracterizados predominantemente por saídas tidas como inevitáveis em razão de valores teoricamente considerados irrecusáveis e a promessa de outras tantas vendas pelos mesmos motivos, coisas que assustam parcela cada vez mais significativa de massa torcedora alvinegra. O grande problema continua sendo o conceito de “irrecusável”, palavra sempre jogada aos quatro ventos para justificar o negócio, i.e., a aceitação de propostas geralmente bastante ruins.
Metade da temporada de 2022 já é passado. Estamos em junho e o Atlético vê-se mergulhado mais uma vez em um cipoal de notícias, algumas de conteúdo apocalíptico, outras tantas prenhes de matérias midiáticas, e em um emaranhado de especulações mil, igualmente panfletárias, sobre a dispensa de “El Turco” e a chegada de um substituto. E, além disso, o fantasma da janela do meio do ano vem obsidiando todo e qualquer galista apaixonado.
É verdade que o time atleticano vem jogando muito mal e que os problemas que estão entorpecendo o time do Atlético estão longe, muito longe de serem resolvidos. E, mais: tais problemas não se resumem exclusivamente à qualidade tão contestada do trabalho de Mohamed, como também estão além da capacidade de resolução do Turco, i.e., sozinho ele jamais conseguiria resolvê-los.
E quais seriam esses problemas? Essa é uma pergunta que já me fizeram mais de uma vez. Pontuar os problemas que claramente estão afetando o rendimento da equipe atleticana é tarefa inglória e leviana, se realizada por alguém como eu que acompanha o Atlético de fora e só pode ver e observar os seus efeitos.
Cabe, na verdade, ao comando alvinegro efetuar um diagnóstico profundo e holístico da “doença” que está minando o time atleticano. E, na sua mais recente entrevista coletiva, Rodrigo Caetano, equilibrado e diligente como sempre, deixou claro que a direção do clube sabe que existem problemas e que está trabalhando para saná-los.
Embora seja negado pelo clube e particularmente pelo diretor atleticano quando perguntado sobre o futuro do Turco no Atlético, tudo indica que os últimos resultados e a crescente deterioração do ambiente fizeram o alto comando escolher o caminho mais fácil: trocar o treinador. As especulações que estão tomando corpo tanto na mídia convencional como em diversos perfis e veículos das redes sociais dão conta de que, para muitos dentro e fora do clube, a causa raiz da queda de rendimento do time alvinegro seria uma acomodação de um grupo que ganhou praticamente quase tudo que disputou e se esqueceu de que a vida continua.
Esse diagnóstico que requer ser testado e confrontado está levando torcedores, gente da imprensa e “influencers” nas redes sociais, atleticanos ou não, a defenderem algumas teses perigosas e temerárias do tipo: “Frouxo, Turco perdeu o comando e o Atlético precisa contratar alguém que saiba IMPOR A SUA AUTORIDADE E FAZER ESTE TIME VOLTAR A COMPETIR COM INTENSIDADE E VERGONHA NA CARA”.
Rodrigo Caetano deu um recado claro sobre isso na sua entrevista: “o grupo gosta do Turco e uma possível troca tem que passar por critérios definidos pelo clube”. E esses critérios certamente definem alguém cuja chegada não resulte em uma tragédia.
Nesse sentido, a própria demissão do Turco, se essa se provar ser uma medida necessária e inevitável, deve ser feita com cuidado. Caetano já foi jogador e sabe que gerir um grupo de atletas profissionais é algo complexo e requer habilidade, empatia, bem querer e respeito. A autoridade advém desse conjunto. Assim, não basta ser duro. Tem que saber ser duro.
Neste ensaio nao tecerei comentários em relação a quaisquer dos nomes que estão sendo ventilados como prováveis ou quase certos substitutos do Turco. Basta dizer que entre estes nomes surgem surpresas realmente curiosas, profissionais que geram dúvidas, algumas plenamente justificadas, quanto à sua musculatura para gerir um grupo pesado como o do Atlético e, claro, treinadores de perfil durão como o brasileiro, radicado no México, Ricardo Ferretti. Cortina de fumaça? Especulações meramente midiáticas? Ou informações fruto de algum objetivo inconfessável, como tumultuar mais ainda a vida do Atlético?
O certo é que alguns desses nomes carregam sobre si um nível de rejeição e de críticas preocupantes, como Renato Gaúcho que, paradoxalmente possui entre os atleticanos um séquito respeitável de admiradores. Coisas do Atlético.
Parece, apenas parece, que tanto entre torcedores quanto nos interiores do clube, está se estabelecendo um consenso em torno da contratação de um brasileiro caso a demissão do Turco se torne inevitável ao senso de quem responde pelo futebol atleticano e, claro, pelo próprio Atlético. Embora no futebol não exista verdade que dure 24 horas e tudo pode acontecer, diante de tudo isso que vem sendo dito e, principalmente, do que pode ser extraído nas entrelinhas, eu não ficaria muito surpreso se qualquer dos nomes que vêm sendo especulados fosse anunciado.
Respondendo à excelente pergunta do Silas Gouveia, Caetano aproveitou para dizer que trabalha e cumpre ordens sempre no interesse do clube. De forma sutil e inteligente deixou claro que, se nada for do interesse do Atlético, ele não cumpre. Sutil e claro ao mesmo tempo.
OBA OBA E GESTÃO IRRESPONSÁVEL, NADA A VER em clube que quer de fato se consolidar como um gigante tanto dentro quanto fora de campo. E, por isso, um dirigente sério, inteligente e diligente como Caetano é um trunfo do qual o Atlético não pode e nem deve abrir mão.
André Repsold deu ao dirigente alvinegro a oportunidade de falar sobre os recorrentes ataques que têm sido desferidos contra ele tanto por “formadores de opinião” da mídia local quanto de outros estados da Federação. E Caetano foi mais uma vez cirúrgico e magistral, em particular quando diferenciou com maestria o peso dos ataques pessoais e tendenciosos das críticas construtivas e inteligentes. Deixou claro, também, que respeita e aceita a crítica negativa se esta contribui com o seu trabalho e for feita com respeito. A pergunta do Repsold levanta uma questão que o clube não deve desprezar: O que está por trás desses ataques ao Caetano?
OBA OBA E GESTÃO IRRESPONSÁVEL, NADA A VER com um clube que quer ser um exemplo de governança profissional, moderna e eficiente fora das quatro linhas e, dentro delas, um grande campeão.